sábado, 27 de dezembro de 2008
Irracional
Fingimento
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Miopia e astigmatismo de alma
Cheguei a casa. Tirei as lentes, regressei a minha natural miopia e astigmatismo. No fundo é clínico, vejo mal ao longe, no tempo do amanhã, tenho grandes dificuldades em focar, disperso-me, e as dioptrias várias denunciam-me. Uma vez disseram-me que só me permitia ser eu quando saía das lentes e me rendia à cegueira, e aí, esse alguém via minha alma mais forte, porque capaz de ser frágil, de se entregar sem ver o outro, apenas porque confiava nos pequenos pontos que o contornavam, fronteiras da alma, para meus olhos toscos, vagos, mas em mim pontos de luz, confiava em algo maior, numa mera sensação, não mais que conforto, ou tudo mais que essa banal palavra, sem saber, carrega. O conforto de estar perto de alguém, esse conforto que é preciso receber, abrir a porta, deixar de ver...
Esta noite dancei e dancei e pensei no quanto gosto que algo, alguém me inspire, no quanto me movo como uma locomotiva orgulhosa da sua revolução industrial, mas como a minha revolução é daquelas que revolve entranhas, e que não teme almas estranhas, danço e ladeio corpos torpes, ágeis que se meneiam perto do meu. Poucos dançam sem temer o roçagar de almas...
Cada palavra é tão minha, que não preciso de escrevê-la para que se dê a mim, tantas são as vezes que se repete na minha mente, no entanto apenas o eco que têm em teu timbre me soa melhor...
Esta coisa de fazer do amor matéria prima, prima pela falta de originalidade, mas todo o ridículo tem a sua forma única de o ser , e não me apresento como excepção. Amor que às vezes me ama , outras ama um homem, um projecto, a vida... E por aí, pelo derradeiro caminho que leva a amar coisa nenhuma. Mas a ti gosto-te com ódio, com aquela luta que faz os amores maiores... E a raiva surge, mero fetiche do ódio de mim mesma, pois não consigo odiar-te de forma a tirar-te a ferros de mim. E sem querer ir, já fui, e levas-me a um qualquer lugar desconcertante, onde poucas vezes só pelo meu pé cheguei.
Não acredito em caminhos se não aqueles que cravo o salto mais alto do meu sapato de festa. Mas para ti caminhei de pé descalço, e sem saber, ali mesmo me desnudei. Acho que me gostaste por isso, entregue sempre à urgência do momento, mas sem me abandonar. Continuo em mim.
Ausência
Amarga no doce afago da presença
Que um simples pensar em ti me traz
Leva-me para lá da crença
De ser mais de mim, pois que me surge a urgência
De ser quem sou
Assim sem paz, pois tudo a que me dou
Te traz, até tua ausência
Não é muda,
Corta a grito o silêncio cortante
Que o tédio galopante
Congela no presente
E de repente escuto aquela voz
E nada, nada se lhe compara
E aquela cena de nós
A forma como o sublime me encara
Faz amor com a poesia
E mesmo sem paz
E com o estômago entregue a nós
Voltava atrás e de novo me perdia
Pois nessa volta o tempo sempre te traz
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Turva
Nas telas de pele esticadas, tingidas
Nos corpos desmaiados,
Reféns dos sentidos...
Perdidos por entre passos
Certos, dispersos no chão,
Preenchem espaços lassos,
Fazem do tempo um homem néscio,
Rompem no resquício vão,
Surgem desertores e desertos,
Dentro de casulos
Que extinguem crepúsculos...
Daquela prisão a céu aberto.
E por entre ruas vasculhadas
Vagueio, acendo um cigarro,
E na nuvem de fumo
Traço meu rumo.
Encontro teu vulto num carro
E aquela visão turva,
Que me espreita a cada curva,
É lavada pela chuva...
Enxuga-me a mente,
Levo o cigarro à boca,
Na esperança oca
De me manter quente,
E crente no que me assombra.
E aquele passo para a paz
Num passo à frente se desfaz...
domingo, 23 de novembro de 2008
Subversão
Elas sabem, repetem-se tantas vezes, sabem que tento sair do casulo do orgulho e evolar-me da sanidade e ser solta no prazer mediato, profundo, que é sermos quem somos sem o pensar, apenas sendo. Cada vez mais me permito. Mas com ou sem orgulho tenho saudades, de ti. Mas não te digo e não por ser forte, antes por ser fraca e por nada querer de ti. Não quero palavras meigas, condescendentes, apenas quero que me escutes e me acolhas nessa saudade, que me tomes como só tu sabes, pois aí, nesse lugar que apenas nós conhecemos, por instantes, pertenço aqui, de forma sublime.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Pelo cansaço...
Onde foi que me deixei achar por ti, ou onde foi que te achei? Sei que foi num lugar onde acordo com o teu cheiro, e onde me apertas contra o teu corpo daquela forma que não tem jeito, apenas o teu.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Vertigem
sábado, 25 de outubro de 2008
Febril
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
On my way
domingo, 12 de outubro de 2008
Insónia
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Retalhos
O inaudível som, que só os mais desatentos tocam
Aqueles tantos que perdem tempo e vivem seus talentos
Que mirram quando chove, e escutam
E juntam-se-me no eco, no brilho de cada sol
E perdem-se no meio para nunca chegar ao fim
E não pescam, mas trazem sempre ao peito um anzol
E gritam não quando os olhos dizem sim
E começam onde caíram
E sempre se levantam
E amam lá pelo fim, só para fazer um não
Virar sim, um precipício
Onde constroem um início
E precipitam de novo um grito
No agito que cada vento arranca ao corpo cansado
Molestado pelo tédio passional
No arranha céus da loucura sei-me inquilina
Sei a linha ténue e curvilínea
Que me mantém sã
E salva da sensatez plural
O meu mais forte apito,
O que me acorda pela manhã
Revolve meu corpo, envolve-me os sonhos
Toca como se cada dia fosse um cais
Onde me atraco, pernoito
Ou barco afoito que sou
Apenas deixo para trás
E presa a cada grito solto não fico, vou
E raramente tenho frio
Pois fiz dos sonhos agasalho
Uma manta de retalhos
Que não tem princípio ou fim... Crio.
domingo, 28 de setembro de 2008
Busca
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Primavera a Sul
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Segredo ao alto
Consome-me aquele olhar
Que não mais me olha
Entrego-me ao corpo que não acho na cama
Que não grita, mas é chama
Não sei se para ti vou
Mas sei-me no salto que em ti dou
Não te preciso, porque te quero
E não deixo que o medo me coma
A alma, com seu morder voraz
Com sua fome de minha paz
Continuas intento da minha saudade
Ainda te quero de cada vez que desejo
Ainda te beijo, em pensamento, cada vez que flamejo
Mas não mais me roubo de mim
Saudades daquelas, tuas mãos,
Que fazem do meu não, sim
Que dão novo toque ao toque
Saudades do teu respirar
Que quero perto, que me sufoque
E nada mais me guia, para além duma força motriz
Que tudo entende, e nada diz
E foi preciso partir, ignorar o encanto
Fugir-te, temer-te, não mais te querer
Para sentir que te quero para lá de tanto
E grito-te no escuro para que ningém me oiça
E trinco-te baixinho para que o orgulho não me morda
E amo-te bem alto para que todos oiçam
E te contem por mim
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Saudade
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
O MEU CONTADOR DE HISTÓRIAS
Aqui vai uma declaração de amor para o meu pai, papi lindo que tanto me deu... E continua a dar...
Desde cedo, ensinou-me que tinha um músculo ao qual não podia faltar exercício. Disse-me que era uma massa cinzenta, como uma pastilha elástica, que se podia esticar, e aí cresceria sem limites. Nunca me esqueci papi. Ensinou-me a fazer contas, a contar moedas, e cedo se deve ter arrependido, pois depressa viu que era exímia em contas de sumir. Ensinou-me a andar, e sempre que caí ele estava lá para me ensinar a andar mais uma vez. Ensinou-me que a maior das suas forças era a sua presença, e nunca o deixei de sentir lá, e, mesmo hoje, à distância, tenho-o comigo.
Lembro-me de como me adormecia, com uma história nova, todos os dias, e de como me divertia, na minha exigência, de que essa história viesse sempre dele, não podia ir colhê-la a livros, tinha que vir da imaginação. Acho que hoje deve divertir-se, rir-se mesmo da sua paciência de pai coruja, que velava o sono da sua cria e que tanto se esforçava, para a cada dia lhe povoar a curta vida de personagens novos.
Por vezes ríamos os dois, pois o bulício do dia roubava-lhe tempo para criar uma nova história, e tentava enganar-me mudando uma antiga, trocando nomes, acrescentando coloridos, mas depressa percebia que a discípula tinha aprendido a usar o músculo lá para os lados da memória, e que se lembrava de todos e cada detalhe das histórias passadas. Mas nunca, durante anos, me faltou uma história para dormir.
Sempre respeitou o meu espaço, mas sempre senti sua presença atrás da porta , quando precisei de fechá-la, e sempre soube que estava lá se lhe corresse.
Sabe-me diferente e acho que às vezes não me compreende, pois tem uma mente bem mais objectiva do que a minha, mas no fundo acho que se diverte e enternece com o meu colorido. Admiro a sua inteligência e carácter, que me deram uma rectidão de que me orgulho e que me fazem hoje não ter medo de cair, pois algo maior me suspende, me faz elevar.
Sei que por vezes não me entendes os sonhos, pois são para ti , mente matemática, tão voláteis, ingénuos. Mas também sei, que no fundo me gostas assim romântica, e um dia papi, vais ver-me voar. Nesse dia vou pensar em ti... Porque sei que no fundo nunca duvidaste.
domingo, 24 de agosto de 2008
Eco
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Devaneio
Um amor daquele jeito
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Inadaptada
Nos dias em que os dias me têm estou viva, sou daqui... Maior parte das vezes sei que não me pertenço, não pertenço aqui. Nada me denuncia. Sou a inadaptada mais adaptada do mundo. Mantem-me aqui o compassar galopante do peito, de cada vez que algo me engrossa o sangue. Sei a que vim, ou finjo saber, e não tenho maior propósito do que acariciar a vida em mim a cada dia... Pensar, mesmo sabendo que pensamos melhor sentindo, e pensar o que sentimos nem sempre faz sentido para além do romance existencialista, e, talvez por isso sedutor para uns, enfadonho para outros... Mas não consigo não me pensar, e tantas vezes é a corda que me ajuda a subir as paredes do poço, como outras tantas, a que me enforca... Aí, nesse lugar onde me magoo, onde sou fracção de mim mesma, mente sem alma, alma sem "pés", não me sei... Corro... Choro... E só no silêncio... Só quando me disponho a ouvir-me, a estar comigo, me remembro por dentro...
Penso demais... Tenho insónias... Mas felizmente sou contradição de saias, pois se me penso é por me sentir demais e quando durmo, nunca me esqueço de sonhar...
Tenho 26 anos... Mas não sei o que são. Continuo a ser eu. Essa coisa de quererem que sejamos grandes incomoda-me , pois o meu Grande afaga o sublime, não dá voltas ao relógio.
Não sei medir o tempo, muito menos a vida, como mulher já me chega medir cintura, anca, peito. Acho pouco imaginativo sermos um número. Se somos, o meu é um 8 invertido, símbolo do infinito, sinónimo do que sou, sinto, penso.
Gosto de me saber mais dura, mas ingénua, de ser uma apaixonada, mas não ansiar alguém.
O Universo certo dia enviou-me mais um anjo. Uma amiga doce, que foi crescendo na minha vida, e , quando vi, eu havia crescido com ela. Tal como eu, a NAYLA é da tribo do Amor. Tal como eu, não se sabe sem pensar o mundo, e, por sua vez, o seu mundo dentro e fora deste. Tal como eu respira-o escrevendo, partilha-se, ou retira-se dele. Nas palavras se evade e se sublima. Só a elas se entrega, tal como eu. Só a elas se confessa.
Um dia ouvia-a dizer, no tom sereno que lhe é característico, e que, a mim, me apazigua a alma, quase que me confessou: "O Amor é uma vibração, temos que deixá-la fluir".
Tenho-a sempre comigo, pois Amigos, tranporto-os todos ao peito, todos os dias, mas oiço várias vezes esta frase, no canto do meu ouvido mais selectivo e és tu quem ma canta, amiga. Também eu creio nela, mas por vezes a ansiedade de amor, de amar, faz-nos não ter paz suficiente para abrigar essa vibração... Tu lembras-me essa paz, o quão a amizade pode ser grande, fraterna, bela. Lembras-me o que é ser plenamente Mulher. Ser pensante, sensual, errante, forte, doce, amante, leve, profundo... Resplandecente.
Obrigada.
domingo, 3 de agosto de 2008
Peso
domingo, 27 de julho de 2008
Sem título
terça-feira, 1 de julho de 2008
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Presente
domingo, 1 de junho de 2008
Rio 18º
sábado, 24 de maio de 2008
Numa qualquer esquina
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Nox
Vidas intermitentes, mundos outros que me invadem
Que me guiam no breu e se apagam...
Luzes que se incendeiam sob o meu olhar
Mas jamais me queimam
Acham-me sem ter que me dar
Imagino vidas certas, desconcertantes
Que se iluminam, ou descansam à sombra delas
Imagino corpos, cansados, rijos, amantes
Jantares à luz de velas
Silêncios, sob o foco, gritos surdos
Movimentos curtos, frases cortantes
Corpos sinuosos denunciam palavras poucas
Prendem ecos de vidas loucas
A luz enfraquece, abraça corpos que se amam
Ou que a noite humedece
Por entre reposteiros translúcidos
Luzes se apagam, outras se acendem
Enterram-se sonhos húmidos
Nós na garganta que não se engolem
Destroem amores que não se evolam
Que teimam em ficar
Por não mais terem a quem voltar
Televisões incessantes preenchem horas ocas
Quartos vazios congelam o ar
Esperam alguém que nunca vem
Jamais vemos quem habita aquela toca
Quem toca mas não se tem
Olhos que nem na luz se enxergam
Almas que tantas vezes se vergam
Luzes reticentes, corpos urgentes
Que a cada noite flamejam
Velam suas almas inquietas, quietas
Solidões que me confortam
Porque noite após noite perduram
Expiam meus medos
Em troca de seus segredos
domingo, 11 de maio de 2008
Emancipação da alma
In http://http//www.guia.heu.nom.br/sonho.htm#subconsciente2
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Saltos altos (PARA A MINHA MÃE, A MELHOR MÃE DO MUNDO)
Nó
Entrego-me pelo meio
E nesse nó em que me enleio
Vivo minha história
Conto-me em directo
Pois não preciso de tecto
Vivo-me a céu aberto
Com a chuva a encolher-me a Alma
Na calma de cada vida suspensa
Na mente de cada um que se pensa
Que se prende e solta em mim
A esta história dou voz
Nela ato os nós dos dedos
Afago e afasto medos
Caravana de emoções
Narradores
Vivemos para narrar nossa história
Prenderam-nos na voz da memória
E soltaram-nos no presente
No tom de voz quente, frio
Num arrepio incoerente
Vivemo-lo para o contar
Soltei-me, girei, giro sem parar
Parei de pensar no fim
Parei para olhar para mim
Estonteei-me nas voltas que dei, que dou
Desfruto da confusão que me invadiu
Tudo o que vejo se mistura com o quem já viu
Adoro sentir-me tonta, ver tudo desfocado
Ganhar novos focos
A miopia fez-me crescer os olhos
E os argumentos poucos
Da minha história incharam
Cresceram, estão vivos, momentos
Que não mais serão contados
São sulcos do meu ser
Vividos, agraciados
Que não mais querem viver
Felizes para sempre
Apenas querem girar
No disco que toca em mim sem parar :
"Era uma vez uma história sem fim"
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Agora
(Grita!)
Para a depressão de ser
Ser assim, triste tristinho...
Sentir-me sufocada num qualquer cantinho
Escuro do tempo, do espaço, de mim
Instala-se a penumbra
E numa qualquer catacumba
Sobrevivo e só penso em respirar
Inspiro e expulso a vida, o ar
E esqueço-me de mim
Só quero acordar num outro tempo
E ressurgir com a aurora
Deitar o relógio fora
E esquecer-me que para tudo tem hora
Só quero existir no Agora
Apenas ele é eterno
É o braço terno que me abraça
Que me deita à vida
E a embala em mim
Escorraça-me o medo
Quando alguém me confia seu segredo
Nele não há hora certa para dormir
Viram-se noites, corpos, copos
E bebe-se tudo o que está para vir
No compasso das pulsações
Embrulham-se corpos extenuados
Enrolam-se pensamentos suados
Sob o manto das intuições
Misturam-se línguas
Peles cruas, vidas nuas
Lábios molhados
Falam por entre dedos entrelaçados
Que afagam e afogam horas
Dedilham as cordas onde se prende o grito
Soltam-no por entre um olhar aflito
Auroras que irrompem por entre beijos, abraços
E fazem luz em olhos baços
(A toda hora, no Agora).
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Chuva
Rasgada pela água que cai dos céus
Tento nela lavar minha cara
Descobrir-me para lá da máscara
No meus múltiplos "Eus"
Como as pedras também eu tenho fendas
Hoje sinto-as abertas
Desperta que estou nesta anestesia que me tomou
De assalto, sobressalto em que vou
Tantos são os olhos, as vendas
Que não me vêem para além do que aparentemente sou
Poucos aqueles a quem me dou
Esses limpam minha cara
A maquilhagem que me escorre por entre a Alma
A chuva cai doce e calma
Entrelaçada no sal de minhas lágrimas
Pára no precipício do meu sorriso
Acalma-se no meu suplício
Descansa nas minhas preces
Mas não me arrefece as entranhas
Colho afecto em almas estranhas
Sou Alma quente, incandescente
Em todos e em cada um dos meu "Eus"
Sou fogo, chama ardente
Grito-o para todos os céus
Ardo hoje no beco que sou
Mas amanhã serei caminho... Vou.
Sigo o rasto do meu segredo
Sei-me Alma pernilonga, sem medo
De caminhar, rasgar pedras da calçada
Penetrar e ser penetrada
Pela força que me faz parar
A mesma que me move e me faz andar
Aos inertes aceno na estrada
Por onde caminho de alma lavada
E no discorrer de pensamentos
Confronto sentimentos, intuições
E encerro meus lamentos
Na caixa forte das palpitações
Ao cair da pena, cai o pano
Amanhã encenarei nova cena
(Parou de chover)
terça-feira, 22 de abril de 2008
Aposento o telescópio [Para olhar-te nos olhos] - Texto da minha grande amiga Nayla
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Rasgos de luz (inspirado no filme-documentário "Born into Brothels" de Ross Kauffman e Zana Briski)
A maturidade não lhe é contornada pelos anos (11 no filme), mas pela alma. Avijit é grande em qualquer idade e em qualquer lugar do mundo. É daqueles que tem um qualquer lugar só dele e consegue, através da fotografia, da pintura, abrir janelas da alma.
A fotografia tem sido companheira, motor de sonhos de Avijit e de outros companheiros, meninos e meninas que vivem também na zona de prostituição de Calcutá, filhos de mães prostitutas que convivem a cada dia com a morte dos seus sonhos. É difícil acreditarem que vão conseguir estudar, ir para a universidade, ter uma vida escolhida. Mas o Universo envia presentes. (Não nos podemos é esquecer de pedi-los. SEM MEDO!) Um deles foi a fotógrafa inglesa, sediada em Nova Iorque, Zana Briski, que eles carinhosamente chamam de tia Zana. Zana não se limitou à pena, foi lá e fez acontecer.
Zana chegou à Redlight (bairro da luz vermelha - zona de prostituição de Calcutá) para fotografar os bordéis e as mulheres que neles viviam. Mas apaixonou-se por estas crianças e criou, não se limitou a reagir. Começou por dar a cada menino e menina (no total são sete) uma máquina fotográfica e começou a dar-lhes aulas de fotografia, tudo isto para que o mundo visse como eles vêem. Estas sessões semanais com a tia Zana, alguém de tão longe, que sonhava junto a eles, relembrou-lhes que tudo é possível, quando já começavam a esquecê-lo... Voltaram a sonhar. Sonhavam poder estudar, poder ter uma vida melhor fora daquele cemitério de sonhos. Antes Avijit dizia mesmo: "não há a palavra esperança no meu futuro". No entanto tudo mudou...
Avijit destacava-se e imprimia força em cada olhar da sua câmara. Aprendeu a usá-la como uma arma e percebeu que a força desta era muito mais poderosa do que a de tiros. O seu carisma e talento garantiram-lhe o convite por parte da World Press Photo Foundation em Amesterdão, para ser parte do júri de Crianças de 2002, que reunia crianças de todo o mundo. No filme vemos como é emocionante para Avijit ir a Amesterdão... Diz mesmo que não pode perder o avião, porque vai realizar os seus sonhos... O menino que não via esperança, pois as lentes da sua máquina fotográfica não reflectiam nenhuma, passou a ver um futuro, uma realidade construída em cima de sonhos... Havia um caminho, tinha que segui-lo.
Mas não foi fácil e vemo-lo ao longo deste documentário, desta saga em busca de sonhos, ou apenas de poder sonhá-los...
Todos estas crianças cresceram em bordéis, brincando em cima de telhados, enquanto suas mães, avós e tias se prostituiam em "baixo do seu chão". Desde cedo aprenderam a aceitar o destino, pois o livre arbítrio estava-lhes vedado. Todos eles começavam já a perder a luz dos sonhos no olhar. Zana resgatou-a com o seu projecto Kids with Cameras. Mais do que um sonho, ela deu-lhes ferramentas para sonhar. Mas urgia tirá-los de lá, daquela zona estéril de oportunidades.
Embora crianças, quando falam da sua realidade, enrijecem-lhes os olhos, principalmente a Avijit, que não vê pernas para os sonhos andarem na Redlight (bairro da luz vermelha - zona de prostituição de Calcutá). Avijit vê mais além e não gosta do que vê.
Durante as filmagens a mãe de Avijit morre, supostamente pela mão do homem que a explorava. Avijit que até então, era o mais concentrado na fotografia afastou-se, desinteressou-se, como se o mundo lhe voltasse a lembrar qual o seu destino. Para além da mãe, resta-lhe a avó. Fala com tristeza do pai, que recorda, pela boca dos vizinhos, como tendo sido forte e capaz de derrubar dois homens. Hoje o pai entregou-se de vez ao vício de haxixe, e mais não faz do que dedicar-se o dia todo a esta tarefa. Não reage a qualquer estímulo vital, vive adormecido, escolheu viver anestesiado e abandonou os seus. Avijit olha-o como se não fosse mais seu pai, o outrora corpo robusto transformou-se no homem frágil que as câmaras retratam, enquanto Avijit narra sua história. Avijit não tem no pai qualquer apoio, pois que dele apenas tem o corpo , pois há muito que ele não o habita. E perdeu a mãe, a sua querida mãe que tanto amava. Mas Zana sabia que por detrás daquela dor, que se manifestava agora através de apatia e do abandono dos seus sonhos (pois Avijit deixara de fotografar e pintar), havia uma luz poderosa moldada pela alma grande de Avijit e não desistiu dele. Apercebeu-se que aquele momento era crucial. Ali se definiria uma vida cheia de possibilidades, ou mais uma entre tantas outras daquela zona, exactamente escura, igual.
Zana tratou de tudo para fazer a diferença, para construir um novo fim para estas histórias, para que não se repitam uma vez mais padrões genéticos, como se o destino estivesse agarrado ao ADN destas crianças. Zana tenta encontrar escolas, internatos que recebam estas crianças, que as alimentem, estimulem, e, acima de tudo que as mantenham longe da Redlight (bairro da luz vermelha - zona de prostituição de Calcutá). A tarefa não foi fácil, pois tinha de procurar uma escola para as meninas e outra para os meninos. Mais que isso, uma instituição disposta a acolher estes filhos de prostitutas. Seguiram-se esperas intermináveis, nãos atrás de nãos, testes de HIV e burocracias inúteis que ameaçam qualquer vontade de mudança.
Mas tudo mudou. Ela foi lá e fez. Não se limitou à pena, que apenas recriaria o passado na vida destas crianças. Criou oportunidades, algo que de nascença lhes havia sido ceifado. Hoje Avijit estuda numa excelente escola nos Estados Unidos com uma bolsa de estudos. O futuro adivinha-se diferente. A palavra esperança, que não existia no seu futuro passou a existir no presente.
Zana conseguiu reescrever a história... E Kids with Cameras continua pelo mundo fora, para nos lembrar que há olhares bem diferentes do nosso e que há visões que o nosso olhar não alcança...
Rasgos de luz que de quando em quando nos levam a ver mais além.
By Avijit
By Avijit
By Avijit
By Kochi
By Gour
sexta-feira, 28 de março de 2008
Felino
Tira-lhe os laços de cetim
Grito-me sem medo, mas temo-te a ti
Sei-te capaz de me fazer sair de mim...
Não te quero assim tanto
A menos que esse tanto
Seja o tanto que me queres a mim
Diferente
Um travo quente
Que me aquece o frio da espinha
De cada vez que a tua língua encontra a minha
És um quente frio...
Sei-te tão teu que jamais serás meu
Mas gosto-te assim, livre, despenteado
Entrelaçado em mim
Não te sei bom ou mau mas sei-te em mim
Não te sei anjo ou diabo mas vejo-te as asas
Gosto-te dos olhos, do cheiro...
Já os sei de cor
Mas não te quero gostar
Ainda me perco de mim
Na língua tua
Já lhe conheço a dança, mas finjo não lembrar
Não lhe conhecer os passos
Morde-me a ânsia, trincas-me os lábios
Por entre abraços
Afogo-me em ti, não me quero salvar
Quero fugir-te mas vou até ti
E no teu quente frio perco o fio...
Não quero mais saber de mim, de ti
Apenas sentir-te o gosto
Ver teu rosto de moldura emaranhada
E sentir-me naquele momento, em ti enleada,
Mulher amada...