No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Perdi-me...

Num halo de vento pousa-me o ar
Mas nunca se deita, deixa ficar
E dança inconstante
Para dentro do meu peito
E nesse instante que me sei viva, quero-te!
Para dar beijos que se estendem...
E nesse embalo deixo o grito
Nesse mesmo instante me calo, concito
E aquele halo de vento que me rascunha a alma
Traz teu cheiro, e ali me perdi
Não me tento, sou!
Da forma mais vazia
Aquela que principia, cria
E cria abandonada fico, vou
Sinto um golpe seco, frio
E de pele amachucada no arrepio
Não mais te sei perto
Talvez tenhas sido reflexo
De esperto sono
Deserto de mim como protesto de alma
Ou invento da saudade
Perdi... (-me)!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Dias assim...

Dias em que me entorpecem os sentidos, onde deixo o cheiro da vitória para trás e me agarra apenas a vontade do instante ausente, absorta que estou no meu nada e distante de tudo o que quero ser, nesse lugar tão meu, descanso por vezes, e aí, posso ser coisa nenhuma. Parecem ser dias inúteis, mas resgatam-me, preciso deles como dos mais felizes, e não sei em quais há mais verdade, ou nos quais ela se perde tão completamente para que a saiba.
Hoje nem o entardecer, nem o amornar dos céus me afagou... Não sei o que tenho... É uma amálgama de nostalgia, de dor não chorada, mas que não dói mais, de esperança espremida, comprimida no que deve ser, é um amontoado de seres e não seres que concitam dentro deste invólucro que hoje quase não me recebe, pois estou pouco em mim... Só me apetece dormir, deitar a cabeça e afogar-me na nuvem de algodão e sentir. Hoje não sinto, ou se sinto, minto. Hoje sou trapaceira, mas finjo duma forma que me sei eu mentira, e ela cresce de tal forma em mim, que me reduz a uma apatia ou se faz verdade muda...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Changes

Mudanças... Chegam de repente, ou por vezes avisam, vêm de mansinho até que a elas nos entregamos...
Estar longe fez-me crescer de amores por cada mudança. Mesmo aquelas em que regredi, me magoei, em todas cheguei a um lugar onde a decisão é apenas minha, a partir daí, tudo muda... É irresistivelmente assustador, mas um medo bom, percursor, daqueles que nos entrega a ânsias, mas também a sonhos. Hoje aprendi a gostar tanto das mudanças, da adrenalina de começar de novo, que se tornaram companheiras e me tornaram mais livre, emprestaram-me os desapegos que todas elas, inevitavelmente, chamam.
Chorei, chorei e chorei, porque me dou sempre na vida, e vim embora... Para trás ficou uma vida, amigos, companheiros de alma, do riso e do choro, pessoas que me fizeram sentir feliz por existirem, por estar junto, viva, que me viram além, apenas quem sou. Senti uma grande forma de amor, a compreensão, senti a maior das forças, a da união. Senti-me como apenas me sentia com as minhas melhores amigas de anos, as minhas irmãs escolhidas. Em pouco tempo, consegui trocar verdades, partilhar afectos, que me transformaram ainda mais em mim... A evidência do espelho não me abandona mais. E a forma amante e amada com que vivo a vida também não. E acho mesmo que criei alguns anticorpos contra o pessimismo... Ou me entreguei de vez à alegria de viver...
Não sou sempre feliz, mas ser muito mais eu trouxe-me a paz de chegar onde quero, e mais que tudo, de estar bem onde estou...
Triste e nostálgica, abandonei a minha segunda casa, o meu Rio de Janeiro, que me espera sempre, mas tudo o que vivi está em mim, está nos meus olhos que me dizem brilhar mais, está no meu riso que se fez mais alto, e está num amor que transborda e que sempre esteve aqui... Mudou o cenário, mas a história ainda é minha, e como me disse uma amiga do coração, a minha doce e sábia Bárbara, tenho que estar inteira para viver tudo o que quero viver, para reconhecer cada piscar de olhos lá de cima...
Sou grata por todo amor que recebi e recebo, aos meus amigos do coração, de todos os mundos, que têm sempre lugar no meu.
(Adoro esta música, pela voz, pelas palavras, porque na ida foi assim e fico feliz que a volta nada encerra, e em mim sinto como mais uma viagem... Porque tudo muda, e quando as mudanças crescem em nós, inevitavelmente damos um salto que nos distancia por momentos, mas que nos entrega maiores).
CHANGES - Seu Jorge

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Corro

Vou dormir resgatada pelo sonho, uma visão, um afago da vista, que fugiu com seu olhar para lá do véu da alma... Entrevi cores que só eu sei ser minhas, e um misto de água nos olhos, e um friozinho na barriga invadiu-me... Sei-me no caminho que não tem por onde ir, nem a que chegar, e hoje lembraram-me que o propósito é fazer-me viva pelo caminho, pulsar, afogar a cabeça no verde que invade a estrada e descobrir estrelas cadentes, desejos reincidentes. E não sei de onde me sai agora esta força estranha, que me rasga desde as entranhas, mas não vou jamais não ser eu, pois não sei ser de outra forma. E mais do que me amem, deixem-me amá-los, porque hoje me dispo de meu ego carente e vou pelo menos tentar...
Deixei-te em cada pisar de chão. A meu lado, corria a lagoa, numa presença fresca e madura, de quem está lá para ficar. E quanto mais em ti pensava, mais corria, e corria, para que ficasses para trás, para que saísses de mim... E continuava... E de coração na boca sei que o engano, e correndo, por instantes te lembro menos, engano o tempo, ultrapassando o vento. E de música nos ouvidos, calo minha alma. E num brinde entre amigos, celebro a vida, e cantando descubro um coro, e no eco jamais me sei só.
E a cada dia repito ao espelho que não te quero mais, para não duvidar, e para que alguém me oiça. E a cada dia, quero-me mais. Quando quero menos, corro. Quando me acho, sonho, e volto a estar viva.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

8

Caminhei, segui, parei, olhei para trás, deixei, fui atrás, doeu, surgi, sumi de mim, e hoje, no espelho, vejo um 8. Como fazer para deitá-lo, embalá-lo no meu ventre, e fazer dele 8 invertido, infinito? Onde está o meu infinito que no espelho apenas me surge nó, ou sou eu que olho errado, talvez precise de um colo onde descansar a cabeça... Tenho que aprender a pedir ajuda. Dói-me a cabeça, ela tem-me cansado demais... Queria poder desligá-la, estou cansada da razão de ser de mim mesma, queria ser por instantes insana, intuir, cheirar a vida com as mãos. O medo tem-me visitado, e não ameaça ir embora. Esse escravo da mente, que analisa, calcula todos os riscos, não vá o risco levar-me para longe dele e colocar-me em lugar prolífero ao prazer. E ultimamente, tem-me amparado, mas não para que não caia, mas porque teme meu salto...
Faz tempo deixei de querer ser perfeita, mas dói ter que assumir os meus erros. Dói ter que me fazer mulher, pois não os divido com ninguém, são meus. À noite quando me assombram, não consigo dormir, por mais que tenha desistido de ser perfeita e que me goste com arestas, continuo uma perfeccionista e o os "ses" afundam-se na almofada, e velam-me o sono... E eu não sou assim. Mas hoje vi-me assim, atada aos fios soltos de mim mesma, que se fizeram assim labirinto, um 8. Mas sei que este momento é precioso, religioso mesmo. O 8 tem o poder absoluto e absurdo do caos, da confusão, e como tal, do seu contrário surgir. Uma epifania que peço ao espelho, ao Universo. Uma clarividência que busco em mim, fazer do caminho sem saída, a volta...

Saudades de ser pequenina, de dormir um sono pesado, de quem brincou o dia inteiro, e por isso, merece... De só acordar porque me achava descalça no colégio, ou com um sapato de cada cor, ou o pior de todos, imaginava uns bandidos que o cercavam para me sequestrar... Onde estão esses bandidos para me levar agora... Tirem-me daqui... Voltem a ser o meu medo recorrente, voltem a assaltar meu sono... E roubem-me do meu outro medo, do que não vejo, que finjo desprezar, mas que não me deixa dormir. Quero deitar a cabeça no algodão com cheiro de lavado, e saber-me ali. Hoje não estou, por isso não durmo, porque me dei conta do tempo... Saudades de esquecê-lo, de não temê-lo, de não olhar para trás... Por isso não durmo, estou presa no ontem, como posso dormir e acordar amanhã? Feita num 8...

Quero o teu colo, suspender o tempo nele, debruçar meu corpo até que se entregue, demorar, poder demorar, e sentir os teus dedos atravessarem meus piores pensamentos e acalmarem-nos, até me esquecer, e de repente, olhar no espelho, os meus cabelos colados às tuas pernas, e ver um 8 deitado, alienado do tempo... INFINITO.

domingo, 31 de maio de 2009

Entre paredes brancas...

Ela chegou e os dois rodearam-se num abraço que nada tinha de amigo, mas escondia uma amizade gigante. Comeram-se com o fervor de quem faz algo errado, e talvez por isso lhes soube tão bem. Não falaram, apenas sussurraram palavras que pintaram de libido as paredes brancas da sala...

Quando o sentiu dentro dela soube-se viva, e ele soube-se capaz de chegar ao amanhã.

Nada importa, o que é certo deixa de o ser , ali, as leis transformam-se numa harmonia transtornante. Eles entendem-se, mesmo que seja errado, ou apenas porque sabe bem. Os dois podem descansar um no outro, e ali, tudo pode ser.

Com o cheiro dele espalhado na pele, abraçando-lhe a alma, e de cabelo emaranhado, foi embora.
Ela sabe que se querem bem, ele também... O resto apenas existe para os restantes.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Antes do Inverno acabar

Veio-lhe naturalmente à boca o travo amargo de medo, o medo de ser feliz... De ceder a esse instinto natural. Só teve tempo de se esconder atrás da cortina de cabelos, que a tornava ainda mais flamejante.
De soslaio ele olhava-a, e mais não queria do que abraçá-la, suspendê-la por momentos, como se esse tempo não existisse, para que ao abrir os olhos, ele fosse a primeira coisa que veria. Jamais tivera pensamentos românticos assim, daquele jeito, rocambolesco, melodramático. Mas aquela estranha, tinha alguma coisa, de estranhamente delicioso e familiar... E apenas lhe apetecia agarrá-la pelos cabelos e sussurrar-lhe palavras tolas, por entre beijos e o roçagar de peles. Contorná-la com suspiros e tê-la sempre na ponta do lápis que rasga o papel que tem, invariavelmente em branco, em cima da secretária, à espera de ser revelado. O que tinha de poético, sugava-se na força com que lhe aquecia cada poro, e com que lhe atiçava a mais entranhada das libidos. Não sabia ser assim. Desejar dessa forma uma mulher. Não sabia se não querer ter. Era-lhe estranho aquele sentimento, que era livre, mas que de tão grande, se lhe colava à alma e se contorcia em seu corpo.

Falaram brevemente, reconheceram-se, não morassem quase a paredes meias....
Mas demoraram tanto a descobrir-se... Ou talvez precisassem de mais tempo.
Como nunca se tinham visto é que ele não entendia. Ela também não. Mas ali estavam frente a frente, e sem saberem de onde, gritava aos dois uma vontade de trincar sonhos a dois e de passar noites entrelaçados. Se cedessem às vontades, ter-se-iam naquele momento, mas com aqueles dois, possuir não se figurava, e os dois voaram para longe um do outro. Cada um com um calor novo no corpo, que só era acalmado pelo senso da razão, quase sempre comum, e despido da graça da surpresa.

E o tempo seguiu seu rumo, o Outono entrou sem perguntar se podia arrancar as folhas de cada árvore que gentilmente despia...

Também ele a despiu sem pedir. E quando finalmente se beijaram, já lhe conheciam a coreografia, ainda que nunca antes ensaiada. Apenas antecedeu um olhar fulminante, e olharam-se de tal forma, que ali mesmo se deram, distraíram as mentes, tudo o que dentro delas dizia que não podia ser. E ali foi, deixaram o desejo ser, pois não sabiam se não ser um do outro, ainda que por momentos. E nessa noite dormiram bem amados... Acordaram envoltos em cabelos dourados, que gentilmente, uma vez mais, escondiam o medo.

E o Inverno entrou Outono adentro, e de rompante, tomou-o nos braços. Este cedeu.
Os dias tornaram-se menores e mais propensos a arrependimentos, pois neles cabia menos tempo, aquele que apenas existe quando nos falta.
E de ansiedade posta na alma, sentia em si cada gotejar de chuva, cada vento frio que se instalava na cidade. Sentiu-se também ela exposta a correntes frias, pois não sabia mais nada, apenas que tinha de partir antes dele. Antes do Inverno acabar, ir-se-ia embora. Não esperaria pela Primavera, não se deixaria tentar pelo Verão, não merecia que este lhe esquentasse a alma, e lhe fizesse perdoar a si mesma ser cobarde.

Perguntava-se a si mesma, se este medo, mais não era do que o desejo novelesco de que ele para ela corresse, assim que ela lhe faltasse. Não, ela não era assim, e tinha por ele um amor grande, solto dos pensamentos alheios. Não temia que fosse de outra, de outras, pois inevitavelmente, estavam, inexplicavelmente ligados, mas livres de possessivos. E que querer era aquele, não sabia, pois mais não cabia nela, tamanho era o temor de que crescesse. Que a tomasse no seu todo, de tal forma, que mais não soubesse ser, se não assim.
E de alma rasgada saiu, antes que ele chegasse.
No fogão, ainda quente, repousava o prato preferido dele. Pela última vez pôs nele todo o seu amor, pensando em cada salivar que lhe traria, na sensação de ser, por ela, amado. Esperava, que tal como o prato de comida que esfriava, sob a noite fria, também ele cedesse... Pois se a detivesse, só tinha uma opção...
Ser feliz... Ainda não cabia no seu tempo...
E o Verão chegou... Os dias cresceram, mas não se perderam ainda do tempo. Pelo menos não para ela. Não para ele.
E perdidos um do outro, ainda hoje se têm...
Não mais se cruzaram.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Círculos

E as pernas longas, para ela apenas fortes, capaz de a fazer chegar, membros ágeis e diletantes, para os homens, fortes ganchos capazes de os apertar contra a vida, rodavam, giravam, dançavam. Com elas desenhava círculos no chão, circundava o seu mundo, fingindo assim ter um centro. Colocou-as em posição de compasso, uma perna recta, vertical, que a prendia ao chão, e com a outra girava, criava órbitas de si mesma. Não se parecia com uma dança, mas talvez fosse apenas isso. Os círculos dispersavam-se tal qual bolas de sabão e neste ritual consigo mesma, tomava consciência do seu corpo, do espaço, e fazia por esquecer o tempo e os outros. Não olhava para quem a observava, pois ali estava comprometida consigo mesma, e a estranheza dos seus movimentos, realçava ainda mais a harmonia do seu corpo de fêmea. Era impossível ignorá-la, mas tornara-se também intangível às frases proferidas pelo intelecto. Apenas o silêncio podia alcançá-la, o movimento, o vento, o nada. Ali podia de repente, num piso de areia molhada, criar tudo. Ali estava o seu mundo, e por instantes, fracções de segundo, foi feliz, entregue a um amor tão profundo que a ninguém se destinava, e pertencia a todos. Ouvia vozes, ecos, gritos sufocados na cabeça e, por fim, conseguiu chegar a um vazio doce, que apenas lhe cantava a brisa e trazia cheiros fortes de maresia. Esqueceu o pessimismo, despiu os medos, e dançou, dançou, não poupou o corpo naquela entrega urgente que não cabia mais em si. Sem dizer uma palavra, libertou-se de todas as que tinha contido em nome de alguém, em nome de qualquer coisa que desconhecia. Vieram-lhe à mente as filosofias, a alegoria de Platão, e viu seu mundo na caverna, e dançou e dançou, e quanto mais se movia, com ajuda do vento, mais a luz se acendia, passeou pelos racionalismos, pelos imperativos dela e dos outros e viu que nela imperava, a criação, a vida, a compreensão, e que a falta delas a sufocava, a levava à descrença, e por fim, à apatia. A sensação de quão seu mundo lhe fugia abatia-a, não mais sabia se devia segurá-lo, ou deixá-lo ir. Encontrou conforto no embater das vagas, no embalar do mar, ali surgindo, seu espelho. Ainda que sem centro continuava a ter duas pernas para desenhar novos mundos, repetia, quando não mais suportava o silêncio, quando este era atropelado por pensamentos, quando estes lhe tiravam a paz. E continuou, riscou a areia fazendo um mapa de sonhos, ininteligível a não ser para ela. Sabia o que cada marca no chão era, as de raiva, as de medo, as de sonho, de alegria, cada uma picotando o chão e se agarrando à vida, ao presente. Ali viu-se real, desvendada pelo chão. E de areia húmida colada aos pés foi para casa.
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domingo, 29 de março de 2009

My girls

Dedico estas palavras às mulheres da minha vida, as minhas grandes amigas, irmãs. São as melhores amigas do mundo. E quando tudo acalma e posso sentir o tempo e o espaço, sinto-vos, ainda mais, a falta.
Saudades de todas e cada uma, saudades de tantos momentos, de podermos sempre, juntas ser crianças. Saudades de ter sempre um abraço sem julgamentos, saudades de o dar. Saudades de todos os risos e gargalhadas épicas que arrancámos à vida. Saudades de viver, estar junto. Saudades de um amor inigualável, fraterno, incondicional, que nos liga para lá do sangue, selou-nos as almas.


Várias vezes senti completude, outras tantas me aproximei. E continuo a tentar, mas o que é estranho, talvez até mágico, é que chegamos lá, mas tão de repente o fazemos, como voltamos à casa de partida, aquela, precursora que nos faz chegar lá, tentar ser sempre mais. Por vezes, tantas, esse mesmo é o motivo de desânimo, de melancolia, cobarde demais para se fazer raiva, revoltar, e mudar o mundo no impulso. Mas ao mesmo tempo, aí reside o mistério, o que nos faz não saber o amanhã, a capacidade que temos de perder o tudo e de nos fazer do nada. E tantas vezes dói, outras nem dói mais, mas é isso que torna a vida desafiante, contundente, estimulante. E a cada estimulo, segurar os nossos pequenos todos, pois vão segurar-nos tantas, tantas vezes nos grandes nadas, travessias directas que nos levam ao centro de nós. E nessa montanha russa não esquecer quem somos, mas mais que tudo, lembrar sempre quem queremos ser. A cada novo nada, lembrar o que nos completa. E são essas as reminiscências que nos mantém vivos. O mistério continua, e o que nos completava às vezes deixa de o fazer, sem culpas distribuídas ou desafectos. E assim por vezes, voltamos a ser infelizes, menos felizes. E assim voltamos a ser felizes, mais alegres a brilhar mais e mais em nós. E este vaivém entrega-nos a barriga a náuseas, ou a sensações que sílabas nenhumas conseguem pronunciar e a arrepios que carregam os ventos dos quatro cantos dentro de nós.
Mas não sei ser eu, inteira, sem os que amo, e sinto saudade, saudade de matar a saudade, de estar mais perto, de ser segurada nos braços, de partilhar as vitórias e as derrotas, de chorar compulsivamente porque aí, nesse lugar tão nosso, posso, e ir do riso ao choro como se fossem teclas do mesmo piano. Juntas podemos tudo. Assim são as minhas melhores amigas. Mulheres que para mim serão sempre meninas. Crescemos juntas e deixamos espaço para crescer, juntas, sempre mais. E mesmo longe, mantemo-nos perto. E esta manutenção exige, demonstrações de afecto, atenção, gestos constantes. Mas por vezes, saudades de pura e simplesmente estarmos juntas, sem fazer nada, apenas estando, pois entre nós podem não existir palavras, que os silêncios entregam-se à cumplicidade. Saudades até de tantos, àquele tempo, dramas, para uma , para algumas, para todas, e sempre saber, que na crise, nos juntamos, falamos mal dele e do mundo, e inevitavelmente, as lágrimas acabam por ceder ao riso. Pois somos profissionais em rir de nós mesmas e se hoje rio de mim é porque o treino foi conjunto, acompanhado. E já dizia o filme, nenhum homem é uma ilha, e eu não me sei sozinha.
Tenho saudades de matar saudades das mulheres da minha vida, cada qual insubstituível, cada qual comodamente instalada no meu coração. E buscando e achando e voltando a perder, o que seja que me faz sentir em mim, viva, estão lá. Sem vocês não seria, jamais,completo. E hoje, ao longe, vejo que as minhas meninas se tornaram nas mais belas mulheres, como poucas o são. Brilhem, vivam incandescentes, acesas por cada sonho e presas apenas ao presente. E quando der menos certo, estamos juntas, sempre.
P.S.: O Amor não tem limites... Vale a pena ver este vídeo:

sábado, 14 de março de 2009

Pecado sublime

Acordei.
Escovei os dentes, deixei-me estar por debaixo do chuveiro e deixei a água fria tomar conta de mim. Escorreu-me por todo o corpo uma sensação nova. Hoje acordara com outros olhos.
No espelho via o brilho que só a luxúria crava no olhar e o desejo na alma. Acordei de vontades acesas, e sem medo de as olhar nos olhos. Por isso demorei-me no espelho. Vi-me tão criança, e talvez poucas vezes me vira tão mulher. Chega de choros e afagos de cabelo (pensei), e em cada poro de pele decidi guardar sonhos, células inteligentes que me gritam ao Universo.
Gosto dele, acho que ele sabe. Mas gosto tanto de tanto gostar, que acabarei por gostar de outro. E para mais, tenho tanto por viver, hoje afogou-me a sensação de esperança, mas não a esperança no amanhã do futuro, a esperança no amanhã do presente. aquele amanhã quase hoje, como pensamos quando crianças, quando mais de dois dias nos parecem sinónimo de eternidade.
E de luxúria no olhar deixada, não por acaso, pelo desejo que se me instalou na alma, e que me sacode o corpo, caminhei pelo dia. E este pecado capital deu-me novo colorido, e como não acredito em pecados, resolvi manter-me pecadora, pois alegrou-me o dia, aqueceu-me o corpo e cozinhou tantos dos meus pensamentos, que crus não me levavam a lado algum.
Não por acaso falei contigo. Tu, voz inteligente, que tanto me lembras, mas que me falas no timbre grave e na tua serenidade de homem cúmplice. A cada palavra lembro-me do corpo quente, da voz grave e certa, das mãos fortes que até hoje me percorrem pensamentos. E prendeste-me assim, pelo intrincado enigma que é tua mente, pela inteligência com que o desvendas caprichosamente quando queres, e aí , só aí, de pequeno se tornou um pecado capital, sublimado por rufos de tambores e drapeados de estrelas. E tudo de uma forma fortemente subtil. Saudade...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Mar adentro

Sentada em frente ao mar observava a tela gigante que perante ela surgia. E naquele instante, sentiu-se mais sozinha, e ao mesmo tempo envolta numa brisa quente, num afago que só a natureza lhe podia dar, e que só a tristeza lhe fazia notar. Parada, defronte dela mesma e do mundo, tendo como abismo a linha do horizonte, teve saudades do nada e de tudo o que não viu. Naquele silêncio feroz, próprio de quem concita a si mesma, culpando por vezes o mundo, encontrou paz e por fim, o nada. Conseguiu esvaziar a mente e apenas sobrepesou o peso da alma. Não é como a vêem, desconfia, e se algo a mede é o quanto ama e se dá. Na displicência com que se deita sobre o mundo existe verdadeiramente.
Ali, naquele fim de tarde, ligou-se a si mesma pela linha que a desligou do mundo.
E pensou: Não me escuto, ou desaprendi minha língua. Confundo-me a mim mesma, certamente o Universo, que não mais deve saber o que quero, qual a demanda. Cheguei a esse ponto crucial, a pergunta não mais pode esperar... E pergunto-me, grito por dentro: O que quero? O que realmente quero?
Cheiro o mar, adoro o cheiro do mar. Alinha-me os sentidos e faz-me perder o senso de mim.
Vou para casa. Quero ir. Amanhã volto. Não posso esquecer, não posso deixar de me responder.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Pós Prilimpimpim

Alma livre, empoeirada

Leva entranhado o pó da estrada

Uma poeira leve, dourada.

E sei-me também eu grão,

Errante, viajante delirante,

A cada delírio são, em cada passo vão, distante.

Colhi pelo caminho os pós prilimpimpim

Aqueles que fazem sempre mais de mim

Os pós mágicos, sementes de ilusão

Que germinam a quem lhes estende a mão

Trago-os sempre no bolso,

Por vezes sacudo-os do dorso,

Quando encolho as asas.

E quando diante do nada,

Lembro-me de minha condição de fada

E o nada vira arremesso

E nesse salto me aqueço

E sigo nova estrada

Quarto escuro

Sempre achei ser algo construído, racionalmente ainda acho. Vem preso às pernas da reciprocidade e, se uma falha, fica manco, vagueia coxo e assombra a vida dos que não mais lhe dão vida. Acho que o Amor é assim. Normalmente, o feliz não enche páginas, vagamente um cartão, uma carta, pois vive ocupando os dias dos que o recebem e dão.

Mas deparo-me com uma nova estirpe. Algo diferente, que julguei, erroneamente, poder apenas ser paixão. Uma transmutação rara, que vive debaixo da pele, que toma conta dos sentidos e, mais que tudo, invade as intuições. É força estranha, motriz, que mesmo quando aquieta e se toma pela razão, vive e volta em qualquer sinal que a intuição não deixa esquecer e que a mente tenta em vão esconder. Não lhe chamo Amor pleno, pois a plenitude vive-se naquilo que pomos no outro e no que o outro põe em nós. Mas está em mim, de uma forma bizarra, agarrado de uma forma livre, como se uma linha invisível nos puxasse na direcção que só os olhos não querem ver.

Hoje escrevo pelo meu punho, pois o meu computador encontra-se moribundo. A máquina foi vencida. O meu portátil morre um pouco mais a cada dia, mas sobrevive estoicamente em modo de segurança. Tenho pensado nisso. Muitos vivem assim, como um computador retardado, em modo de segurança. Apenas assegurando as funções básicas, privando-se dos riscos, os rasgos de acaso improgramáveis, que nos transportam ao melhor e ao pior. E nada melhor para anestesiar a alma, do que converter-se em atrasado emocional e viver, "seguramente", a vida. Muitos "computadores cansados" se passeiam nas ruas no seu confortável modo de segurança, para garantir sobrevivência. Apenas permitem acesso a alguns programas, ficheiros deles mesmos, e outros, pura e simplesmente desaparecem, riscos que eram para o sistema nervoso central. Sobrevivem à morte, à dor, mas não à vida. Pensam e vivem devagar para ser eternos. E vivem morrendo para não morrer. A antítese new age pela qual tantos subitamente buscam luzes, iluminações externas, quando se fecharam num quarto escuro.

Lembro-me do quarto escuro, brincadeira de crianças. Cada qual escolhe um esconderijo, para que alguém o ache no meio do breu. Acho que muitos continuam a brincar, ainda hoje, no escuro, e, sem saber, esperam que alguém os encontre e acenda a luz. Por vezes basta abrir os olhos.

A lua disse-me

Estou inquieta. Mente, corpo e espírito. Apenas escrever me acalma. A sensação de partilhar, de tirar de mim, oferece-me a maior das evasões.



Vagueio pelo quarto, acendo um cigarro, olho pela janela... E nada me acalma, me resigna com a vida. Levanto-me, dirijo-me novamente à janela, em busca de algo maior do que eu, que sufoque minha sofreguidão.



A noite está no mínimo bela. O céu mistura sua negritude com reflexos acobreados. Por entre matizes várias, esconde a lua. Não a encontro. Fui em busca dela, ela dá-me paz, na sua vigília silenciosa. Mas hoje está inalcançável , pelo menos aos meus olhos. Mas a noite não perde por isso beleza, e a sua ausência sentida, parece que a faz ainda mais presente. A lua, tantas vezes associada ao oculto, ao lado feminino, ao indizível. Mulher de fases e que, por vezes, quando a não vemos, se torna maior em nós, tamanha é a crença de que todas as noites nos vela. Mulher de fases que clareia, mas que não é clara, que ilumina, mas não se faz só de luz. Que é luz, mas não é estrela. Que não tem medo do escuro, pois nele se faz luz. A lua diz-nos tantas coisas quando a olhamos, e escutamos, e nos permitimos perscrutar a nós mesmos, sob a sua doce e velada luz.



Hoje a lua disse-me que, por vezes (a) procuro e não acho, mas está lá, apenas não vejo, mas se fechar os olhos, e me abrir para uma visão maior, vou saber, ver para lá do véu.



Há pequenos sinais onde quer quer que os queiramos ler, há meras coincidências quando queremos ser compreendidos. Olhei de novo sobre a janela do meu quarto. Debrucei-me sobre mim mesma para ver se "via". No cimo, numa distância que as sensações foram encurtando, acenava-me, de braços abertos o Cristo Redentor, iluminado. O céu encobrira a lua, mas deixou-o a descoberto para mim. Nele repousei minha inquietação e ansiedades. e na tinta que discorre por estas páginas as partilho, consoladamente. (A minha terapia está ao alcance de uma bic).



Hoje a lua na sua omnipresença, ou presença subtil, resgatou a minha fé, quando a frequência do dia a baixara, na tentativa de extingui-la. Mas antes de dormir lembrei-me que é real. Existe, vive em mim, mesmo que às vezes a não veja.


Nasci para viver esta vida e a cada escolha ser mais eu.


sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Sopro no coração

Saudades de quem era há um sopro atrás, aquele sobre o qual suspendia meus sonhos e pendia meus medos. Saudades de como me dava à vida, na displicência própria de quem tem todo tempo para se dar ao riso, ao grito, ao choro e à dor. Até o sofrer tinha mais cor, mais melodrama, parecia tão mortal. E a tristeza, essa, deixava-a entrar, não porque a queria em mim, mas para que se fosse por vontade própria. Agora foi-se o medo, não mais temo a dor, mas não porque cresci, apenas porque doeu, e só aí cresci, quando temi não conseguir expulsá-la de mim... Mas sempre vai, se nós voltarmos.


Tenho um sopro no coração, desde criança. Não devia ter mais de sete anos, talvez seis, quando me foi diagnosticado.
Lembro-me que foi por essa altura, aos seis, sete anos, que comecei a interrogar-me o que fazia aqui, num mundo onde as nuvens andam sem parar, e quando parecem parar apenas se juntam e choram sobre nós. E continuam a andar, para chegar a lugar nenhum...

Lembro-me de uma sensação típica daquele tempo. Aquela sensação de conforto por estar junto do meu pai e da minha mãe. Ele guiava o carro, e minha mãe ao lado, sempre sorridente, sempre com um brilho no olhar só para mim. Era feliz naquele mimo pueril de filha única, àquele tempo. E lembro-me de me encostar ao vidro quente do carro, como gostava de andar de carro, e olhar o céu, aí conheci pela primeira vez a vastidão. Aí, comecei a perder-me. Recordo-me duma angústia que desde aí se juntou a mim. Um pesar, uma intensidade, que derrotava os meus sete anos. Um sentir-me grande, grata, maravilhada com a vida, com o céu, com as nuvens, com todas as coisas, com o Universo e, no entanto, uma angústia tão vasta quanto ele. Um sentir no peito um aperto, saber-me pequena, minúscula, partícula... E debaixo daquele tecto felpudo, deitava-me no banco de trás do carro, e olhava o tudo e o nada, os vultos de outros, o meu reflexo no vidro, e via o quanto todos estávamos próximos, unidos, sob o mesmo céu, e o quanto raras vezes nos olhávamos. Foi aí, acho, com sete anos que comecei a achar-me estranha, inadaptada, ou pura e simplesmente narradora, contadora de histórias, comecei a ter palavras que se multiplicavam na minha cabeça, interrogações e deambulações que nunca mais me deixaram. E de cada vez que rodava na minha saia de pregas olhava sempre o céu. Para me lembrar que era uma pequena parte do todo, mas grande no meu todo e nas voltas que sobre a minha saia sempre haveria de dar.

Lembro-me de uma ida ao médico. A minha mãe, nervosa por dentro, mas na calma aparente que todas as mães sabem ter para proteger e acalmar suas crias. Lembro-me apenas de um gel frio no peito, uns exames, pois parece que aquelas dores no peito que sentia, aquelas palpitações, não eram apenas dores de crescimento. Mais tarde chegaram à conclusão do meu "mal inofensivo". Era apenas um sopro... Um sopro no coração, inconsequente. Congénito disse o médico. Por ele me penetrou a angústia, mas também os sonhos, e a paixão com que os sonhava, cega, crente. Um sopro, uma porta que a genética me ofereceu, um coração escancarado, sem medo de abrir a porta, às dores, aos amores, aos sonhos e aos que não crêem. E se hoje soubesse ter cura para o meu sopro no coração, não quereria, pois ele marcou-me o ritmo, fez-me sentir mais a música, cada som, cada ausência, dançar, até ficar ofegante, fez-me ser mais distante, no vazio que ele por vezes preenche em mim, no vácuo entre mim e os outros, deu-me ar, e por isso me ensinou a estar perto, a ser próxima, estar, sentir e correr atrás, no compasso das minhas palpitações. A não ter medo de rasgar o peito , pois já nasci com ele rasgado, e se por vezes dói, comprime meu peito, também acolhe sonhos, encena momentos, que não são ensaiados, que seguem aquele sopro, se misturam naquela brisa quente, fria, aquele sopro, mero trampolim de sensações.

Ainda hoje gosto de sentir o vidro quente do carro e acordar a mente naquela dormência que me invade o corpo, ainda hoje, sinto o mesmo quando a viagem termina. Quando criança era tarefa árdua, no caso do meu pai, tirar-me do carro, ficava pregada à minha janela para o mundo, ao ar quente do meu mundo de lata e vidro. E sempre que ando de carro, desde os sete anos, vivo todas as vidas que cabem nas rodas do carro e todas as que crio para além delas.
Mas hoje, no banco da frente sou eu quem segura o volante, e ainda imagino, vivo mil vidas, viro páginas de mim mesma a cada esquina. Sonho-me como me quero e levo-me para o destino. E reconheço aquela brisa quente, ela entrou por lá, veio com os sonhos... É aquele sopro de ar, de vida, de je ne sais quoi, que me exalta, e acalma. Até hoje o sonho é o mesmo, sempre o mesmo. E até hoje acredito, entro no carro e vou atrás. E saio do carro, bato a porta, e continuo, pelo meu pé, vou atrás...