No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Presente

Fujo tantas vezes de mim, e tantas são as vezes que não tenho pernas para me alcançar. Perco-me de vista e só me sei pelo cheiro. Pergunto-me se me sabes pelo cheiro, pelo som com que prenso o chão. Pelo eco de meu caminho, agitado por entre sons vagos de cabelos que brigam com o vento... Pelo meu pulsar, esse som inaudível, que toca frenético para os amantes.
Estava frio e ela acordara, com a leve secura que o frio leva à boca. No entanto, no estômago, esvoaçam-lhe constantemente borboletas. Talvez bom presságio, ou apenas o fio invísivel que a faz alcançar tudo o que pede.
Por entre luzes que nos cegam, todos se apagam e acendem-se presentes, amigos de caminho, dançam por entre corpos inertes, alegres, braços que se enleiam, pernas que se meneiam, almas que se esquecem, outras acordam, muitas se aquecem. Figuram um videoclip colectivo, dão vida à inanimação plural. O Todo ganha forma, torna-se animado, quente... Ela vira-o assim pela primeira vez, quem sabe um presente, que o acaso, não por acaso lhe traz. Se for um simples acaso, que seja um feliz...
Continua a ter borboletas dentro de si e a gostar de dançar e a ter pernas para se fugir... E a correr tanto nos sonhos que acorda com os lábios secos. Acordada, culpa o frio, mas as borboletas que esvoaçam dentro de si mostram tempos para além do tempo, histórias para além da sua. As asas que nela se agitam, entregam-na a um tempo mágico, não lhe pesam, não a consomem. É apenas aquela ânsia boa, de quem agradece o que está para vir, pois já o sente, não duvida. E por isso, tem em si aquele friozinho, no fundo do seu ser, e borboletas no estômago. Uma inquietude boa, pueril, que a puxa para fora de si mesma, por saber que cada dia, pode ser o dia de abrir os presentes. Todos os dias acaba por descobrir um, vários, pois tem em si a sinonímia da palavra, a gratidão que a abraça, o tempo sem tempo.

domingo, 1 de junho de 2008

Rio 18º

Rio de Janeiro, 18 graus... Amanheci com a chuva... Caíam-me pelas entranhas as gotas gélidas que se entregavam à janela do meu quarto... O azul habitual tornara-se cinzento e tudo parecia diferente, outro cenário, outra cidade. Uma cidade perdida dos Homens ou eles perdidos nela. Sempre me espanta o quanto as cidades se rendem aos céus e se transfiguram. Parecem gente, abraçam uma tal metamorfose, que convida os que as habitam a recolherem-se ao casulo, para também eles se transformarem, ou esconderem.
Cada conflito, duvidazinha, indigestão mental, convulsão do espírito que tenhamos, cresce sob o dilúvio... criam-se poças em nós, e assim, caminho pelas ruas alagadas e revejo-me nelas, sinto-me encolher, a murchar por dentro, levo a pele arrepiada e sinto o chiar do vento sob o chilrear da minha alma... Os dois fazem-me estremecer, um de frio, o outro pela frieza que hoje está em mim... Saudade dos delírios febris.
Quando dou por mim, a noite caíra, mas nem esta acalmara a chuva, a humidade que se colou aos ossos da cidade, aos meus, que abriu fendas nas paredes da minha alma. Hoje sinto-as particularmente fundas, abertas. É daí que vem o frio.