No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

sábado, 24 de maio de 2008

Numa qualquer esquina

O que de melhor há no mundo das mulheres e dos homens, o que o rasga e nos rasga, está sempre à espreita, numa qualquer esquina. Espera-nos, vive sob a calma do nosso desconhecimento. Toma-nos de sobressalto, arranca-nos a razão e torna-nos somente nela. Na surpresa, na fruição de tudo o que veio, e tudo o que de nós sobreveio. O inesperado vence-nos, debilita-nos o espírito numa tontura boa, como aquelas que forçávamos em crianças, rodando sem parar... Entorpece-nos, felizmente a mente, e viramos alma com boca, nariz, dedos que tudo alcançam. Grava-nos memórias, cheiro, voz, pele, a cada pulsar de coração, e aí se encerram. Leva-nos à maior das forças se a reconhecermos... O Amor é assim não se anuncia, mas gosta de ser convidado. Então moldamos a nossa vida, pois este jamais nos solta da fé... Pena que tantos cortem o fio... Acendam a "luz". Começam a pensar, a classificar tudo segundo o tempo e os outros...
Aos caminhos que as esquinas abrem em nós...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Nox

Janelas infinitas se acendem

Vidas intermitentes, mundos outros que me invadem

Que me guiam no breu e se apagam...

Luzes que se incendeiam sob o meu olhar

Mas jamais me queimam

Acham-me sem ter que me dar



Imagino vidas certas, desconcertantes

Que se iluminam, ou descansam à sombra delas

Imagino corpos, cansados, rijos, amantes

Jantares à luz de velas

Silêncios, sob o foco, gritos surdos

Movimentos curtos, frases cortantes



Corpos sinuosos denunciam palavras poucas

Prendem ecos de vidas loucas

A luz enfraquece, abraça corpos que se amam

Ou que a noite humedece



Por entre reposteiros translúcidos

Luzes se apagam, outras se acendem

Enterram-se sonhos húmidos

Nós na garganta que não se engolem

Destroem amores que não se evolam

Que teimam em ficar

Por não mais terem a quem voltar



Televisões incessantes preenchem horas ocas

Quartos vazios congelam o ar

Esperam alguém que nunca vem

Jamais vemos quem habita aquela toca

Quem toca mas não se tem

Olhos que nem na luz se enxergam

Almas que tantas vezes se vergam



Luzes reticentes, corpos urgentes

Que a cada noite flamejam

Velam suas almas inquietas, quietas

Solidões que me confortam

Porque noite após noite perduram

Expiam meus medos

Em troca de seus segredos

domingo, 11 de maio de 2008

Emancipação da alma

A noite adormece tormentos, esconde olhares baços, ilumina-se em olhos nus. Ao mesmo tempo dá lugar a vidas outras, a personagens que se criam só no breu. Empresta cenário a encontros e a desencontros que desembocam em novos encontros.

Atravessaste a estrada. Sentada naquela cadeira de bar vi cada passo que inscreveste no chão... Vi um caminhar certo de quem cumpre seu destino. Nada fiz para que me notasses, mas as forças silenciosas da minha mente gritaram-no por mim... Paraste... Puxaste uma cadeira e, graciosamente, pediste para te juntar a nós. Ali juntei-me ao teu olhar. Só ali o vi. E tal como o teu caminhar, também teu olhar era certeiro. Tudo tão certo, cada entoação, a dança das mãos, subtil, o jogo de palavras, o riso espontâneo, mas não exagerado, tudo tão na medida certa que se tornou desconcertante. Os cigarros cresciam nas minhas mãos porque me queria abstrair daquela atracção, ainda inominável, que se apoderava de mim. Tentei em vão cruzar conversas, falar com os teus amigos, com as minhas, mas voltava sempre a ti. Impossível não voltar. Havia uma qualquer força impregnada no teu olhar, nos teus gestos, em ti.

Levantámo-nos, deixámos o bar e seguimos para a festa. Fomos todos. Logo à porta senti um frio na espinha, um roçagar de pele... Era a tua mão na minha... Soltaram-se. Entrámos. O bailinho fervia, talvez não. Eu fervia, porque sabia agora que não mais ia fugir. Dançámos, e naquele balancear de corpos, colaste o teu ao meu. Não me beijaste logo. Não havia em nós qualquer pressa, tocava ainda a (nossa) primeira música, mas tinhamos no corpo urgência. Dançámos colados, sentindo cada movimento, e só o movimento do outro. Conhecêmo-nos o jeito, as formas, o cheiro. Nossos corpos já não eram estranhos, e aí, rendêmo-nos ao que nos puxava um para o outro. Colámos lábios e apertámo-nos num beijo, que deu lugar a outro e a outro, sem sequer saber qual era um ou outro. Não mais conseguimos parar...
O despertador toca... Ao meu lado, na cama, o livro "the Secret", nos ouvidos os fones já sem vida... Dormira toda a noite, embalada pela música, entregue à força de meus pensamentos (in)conscientes.
.
.
.
"Sonho [do latim somniu] – Efeito da emancipação da alma durante o sono. Quando os sentidos ficam entorpecidos, os laços que unem o corpo e a alma se afrouxam. Esta, tornando-se mais livre, recupera em parte suas faculdades de Espírito e entra mais facilmente em comunicação com os seres do mundo incorpóreo. A recordação que ela conserva ao despertar, do que viu em outros lugares e em outros mundos, ou em suas existências passadas, constitui o sonho propriamente dito. Sendo esta recordação apenas parcial, quase sempre incompleta e entremeada com recordações da vigília (acordado), resultam daí, na seqüência dos fatos, soluções de continuidade que lhes rompem a concatenação e produzem esses conjuntos estranhos que parecem sem sentido, pouco mais ou menos, como seria a narração à qual se houvessem truncado, aqui e ali, fragmentos de linhas ou de frases."
In http://http//www.guia.heu.nom.br/sonho.htm#subconsciente2

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Saltos altos (PARA A MINHA MÃE, A MELHOR MÃE DO MUNDO)

Era uma vez uma menina que sonhava ser grande. Calçava os sapatos de salto alto da mãe, mascarava-se por entre brilhos de sombras e o carmim com que pintava os lábios, e encenava como seria um dia, distante, quando fosse grande.
Um dia o dia chegou. Olhou-se no espelho e os dedos que lhe sobravam nos sapatos de salto alto haviam sumido. Crescera.
Cedo percebeu que os sapatos de salto alto que a tinham feito subir às alturas, também lhe faziam maior a queda, sufocavam-lhe os dedos. Percebeu quão útil lhe tinha sido o treino de criança. Tornara-se uma equilibrista, exímia a contornar as depressões da calçada com os seus saltos afiados.
As cores que em criança lhe mascaravam o rosto, desmaiavam rapidamente no rosto de mulher, que se quer mais equilibrista, equilibrada em seus saltos, do que palhaço. Depressa viu que se preferia palhaço. Um palhaço equilibrista, que caminha graciosamente, mas que ri e faz rir. E acima de tudo, os sapatos grandes ensinaram-na a cair e a rir-se da queda, a limpar feridas de guerra e a erguer-se de novo, mulher, palhaço, guerreira no alto dos seus saltos. Ensinaram-na a caminhar de salto partido se necessário, pois salto maior é aquele que nenhum sapateiro conserta, e que ela cedo inscreveu em si.
É hoje mulher, palhaço, equilibrista, trapezista e sobe ao palco sem rede. Não precisa que lhe amparem a queda, pois a rede faz-se dos braços que lhe percorrem a vida. O espetáculo cedo foi montado, ensaiado. E hoje vê-se assim mulher, menina, palhaço equilibrista, trapezista, artista no seu circo e no cerco que criou.
Não tem medo de mascarar a cara, pois a tinta não lhe tinge a Alma. Cresceu sem medo de se fazer mulher, pois nunca deixou de ser aquela menina que queria ser grande... Ainda quer.
Regressa a casa. Sai dos saltos. Mas as asas que a mãe lhe deu ainda menina, não tira nem para dormir. Tornaram-se tão suas que se lhe colaram à pele... São membranas dos sonhos, evolução genética que mães Grandes passam às filhas para um dia também estas passarem às suas... Os saltos são ilusão, treinaram-lhe as quedas, o equilíbrio, a graciosidade com que abre caminho e a força com que crava o chão. Mas o salto maior leva-o sempre preso nas asas. Não as tira nem para dormir.
OBRIGADA MUMMY POR TODAS AS TEATRICES, POR SERES SEMPRE ASSIM, TÃO FÊMEA, MULHER, MENINA. FOSTE E ÉS O MAIS BELO DOS ESPELHOS E SEMPRE ME ENSINASTE A CALÇAR SAPATOS ALHEIOS... POR TUDO ISSO ME SEI QUEM SOU, PORQUE UM DIA FUI AQUELA, A TUA MENINA... AINDA SOU.

Não me compadeço com fins

Entrego-me pelo meio

E nesse nó em que me enleio

Vivo minha história

Conto-me em directo

Pois não preciso de tecto

Vivo-me a céu aberto

Com a chuva a encolher-me a Alma

Na calma de cada vida suspensa

Na mente de cada um que se pensa

Que se prende e solta em mim

A esta história dou voz

Nela ato os nós dos dedos

Afago e afasto medos

Caravana de emoções

Há lugares e pessoas tão nossos que nos libertam de nós, e, graciosamente, deles também. Assim nos têm. Prendem-nos na liberdade deliciosa de nos perdermos por entre cheiros, vozes, silêncos, cores desmaiadas, vivas, presas à tela que nos prega à vida. Somos de tal forma deles que não sabemos se os achámos, ou se somos nós seu achado. Nunca os perdemos. Viajam nos cheiros que trazemos connosco, nas vozes que ecoam a cada adormecer, nas brisas que nos afagam a alma e nos ventos que nos chicoteiam o corpo.
Em todos e cada um estamos nós. Dão-nos novas entoações, conotações, novas formas de olhar. Criamos novas matizes das cores primárias que nos pintam a alma. Ganhamos texturas e molduras várias.
Nunca fui tão escarlate como hoje, nunca meu fogo foi tão carmim, pois esquentam-no as carnes de todos aqueles cujo o eco das vozes toca em mim. Virei sinestesia ambulante e a cada som, vejo cores, sigo cheiros, reconheço outros, perco-me, reencontro-me. E assim não sei se são os lugares meus, as pessoas, se sou eu. Todos nós misturados pintamos retratos vários, múltiplos de mim. O todo não se entrega a divisões, e a parcela que sou só ganha sentido nesse todo. Minhas cores só se incendeiam e tornam vivas ao lado de aqueloutras mais apagadas. E assim, mesclada, me fiz mais humana, mais quente, mais fria, mulher, mais amante, mais amada, mais minha, mais VIVA!
Sou caravana ambulante de emoções e por onde quer que ande, onde quer que pare, trago-os a todos e cada um - lugares, pessoas, cheiros, cores, sabores, beijos, abraços, gritos, risos, vozes, silêncios, cantos, ecos, mãos - em mim.

Narradores

Tudo começa com "era uma vez"...
Vivemos para narrar nossa história
Prenderam-nos na voz da memória
E soltaram-nos no presente
No tom de voz quente, frio
Num arrepio incoerente
Vivemo-lo para o contar
Soltei-me, girei, giro sem parar
Parei de pensar no fim
Parei para olhar para mim
Estonteei-me nas voltas que dei, que dou
Desfruto da confusão que me invadiu
Tudo o que vejo se mistura com o quem já viu
Adoro sentir-me tonta, ver tudo desfocado
Ganhar novos focos
A miopia fez-me crescer os olhos
E os argumentos poucos
Da minha história incharam
Cresceram, estão vivos, momentos
Que não mais serão contados
São sulcos do meu ser
Vividos, agraciados
Que não mais querem viver
Felizes para sempre
Apenas querem girar
No disco que toca em mim sem parar :
"Era uma vez uma história sem fim"

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Agora

Tem dias em que tudo nos pressiona, precipita

(Grita!)

Para a depressão de ser

Ser assim, triste tristinho...

Sentir-me sufocada num qualquer cantinho

Escuro do tempo, do espaço, de mim

Instala-se a penumbra

E numa qualquer catacumba

Sobrevivo e só penso em respirar

Inspiro e expulso a vida, o ar

E esqueço-me de mim

Só quero acordar num outro tempo

E ressurgir com a aurora

Deitar o relógio fora

E esquecer-me que para tudo tem hora

Só quero existir no Agora

Apenas ele é eterno

É o braço terno que me abraça

Que me deita à vida

E a embala em mim

Escorraça-me o medo

Quando alguém me confia seu segredo

Nele não há hora certa para dormir

Viram-se noites, corpos, copos

E bebe-se tudo o que está para vir

No compasso das pulsações

Embrulham-se corpos extenuados

Enrolam-se pensamentos suados

Sob o manto das intuições

Misturam-se línguas

Peles cruas, vidas nuas

Lábios molhados

Falam por entre dedos entrelaçados

Que afagam e afogam horas

Dedilham as cordas onde se prende o grito

Soltam-no por entre um olhar aflito

Auroras que irrompem por entre beijos, abraços

E fazem luz em olhos baços

(A toda hora, no Agora).