Há lugares e pessoas tão nossos que nos libertam de nós, e, graciosamente, deles também. Assim nos têm. Prendem-nos na liberdade deliciosa de nos perdermos por entre cheiros, vozes, silêncos, cores desmaiadas, vivas, presas à tela que nos prega à vida. Somos de tal forma deles que não sabemos se os achámos, ou se somos nós seu achado. Nunca os perdemos. Viajam nos cheiros que trazemos connosco, nas vozes que ecoam a cada adormecer, nas brisas que nos afagam a alma e nos ventos que nos chicoteiam o corpo.
Em todos e cada um estamos nós. Dão-nos novas entoações, conotações, novas formas de olhar. Criamos novas matizes das cores primárias que nos pintam a alma. Ganhamos texturas e molduras várias.
Nunca fui tão escarlate como hoje, nunca meu fogo foi tão carmim, pois esquentam-no as carnes de todos aqueles cujo o eco das vozes toca em mim. Virei sinestesia ambulante e a cada som, vejo cores, sigo cheiros, reconheço outros, perco-me, reencontro-me. E assim não sei se são os lugares meus, as pessoas, se sou eu. Todos nós misturados pintamos retratos vários, múltiplos de mim. O todo não se entrega a divisões, e a parcela que sou só ganha sentido nesse todo. Minhas cores só se incendeiam e tornam vivas ao lado de aqueloutras mais apagadas. E assim, mesclada, me fiz mais humana, mais quente, mais fria, mulher, mais amante, mais amada, mais minha, mais VIVA!
Sou caravana ambulante de emoções e por onde quer que ande, onde quer que pare, trago-os a todos e cada um - lugares, pessoas, cheiros, cores, sabores, beijos, abraços, gritos, risos, vozes, silêncios, cantos, ecos, mãos - em mim.
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