Vou dormir resgatada pelo sonho, uma visão, um afago da vista, que fugiu com seu olhar para lá do véu da alma... Entrevi cores que só eu sei ser minhas, e um misto de água nos olhos, e um friozinho na barriga invadiu-me... Sei-me no caminho que não tem por onde ir, nem a que chegar, e hoje lembraram-me que o propósito é fazer-me viva pelo caminho, pulsar, afogar a cabeça no verde que invade a estrada e descobrir estrelas cadentes, desejos reincidentes. E não sei de onde me sai agora esta força estranha, que me rasga desde as entranhas, mas não vou jamais não ser eu, pois não sei ser de outra forma. E mais do que me amem, deixem-me amá-los, porque hoje me dispo de meu ego carente e vou pelo menos tentar...
Deixei-te em cada pisar de chão. A meu lado, corria a lagoa, numa presença fresca e madura, de quem está lá para ficar. E quanto mais em ti pensava, mais corria, e corria, para que ficasses para trás, para que saísses de mim... E continuava... E de coração na boca sei que o engano, e correndo, por instantes te lembro menos, engano o tempo, ultrapassando o vento. E de música nos ouvidos, calo minha alma. E num brinde entre amigos, celebro a vida, e cantando descubro um coro, e no eco jamais me sei só.
E a cada dia repito ao espelho que não te quero mais, para não duvidar, e para que alguém me oiça. E a cada dia, quero-me mais. Quando quero menos, corro. Quando me acho, sonho, e volto a estar viva.