No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Chuva

Hoje sei-me pedra da calçada

Rasgada pela água que cai dos céus

Tento nela lavar minha cara

Descobrir-me para lá da máscara

No meus múltiplos "Eus"


Como as pedras também eu tenho fendas

Hoje sinto-as abertas

Desperta que estou nesta anestesia que me tomou

De assalto, sobressalto em que vou

Tantos são os olhos, as vendas

Que não me vêem para além do que aparentemente sou

Poucos aqueles a quem me dou

Esses limpam minha cara

A maquilhagem que me escorre por entre a Alma



A chuva cai doce e calma

Entrelaçada no sal de minhas lágrimas

Pára no precipício do meu sorriso

Acalma-se no meu suplício

Descansa nas minhas preces

Mas não me arrefece as entranhas

Colho afecto em almas estranhas

Sou Alma quente, incandescente

Em todos e em cada um dos meu "Eus"

Sou fogo, chama ardente

Grito-o para todos os céus



Ardo hoje no beco que sou

Mas amanhã serei caminho... Vou.

Sigo o rasto do meu segredo

Sei-me Alma pernilonga, sem medo

De caminhar, rasgar pedras da calçada

Penetrar e ser penetrada

Pela força que me faz parar

A mesma que me move e me faz andar

Aos inertes aceno na estrada

Por onde caminho de alma lavada

E no discorrer de pensamentos

Confronto sentimentos, intuições

E encerro meus lamentos

Na caixa forte das palpitações

Ao cair da pena, cai o pano

Amanhã encenarei nova cena

(Parou de chover)

terça-feira, 22 de abril de 2008

Aposento o telescópio [Para olhar-te nos olhos] - Texto da minha grande amiga Nayla

(Obrigado pelo maior dos presentes Naylinha... As palavras são sementes, proliferam consciências, visões para além das nossas... E ter uma amiga que vê tantas coisas é ter uma vida maior! Te ADORO!!! Obrigada por estar em minha vida! Vaidade é pouco para dizer o que sinto ao ouvir que este é "meu retrato fiel"... Tudo farei para lhe ser fiel.)
És como as estrelas,
Que brilham mesmo ao longe.
[Pois quando irradias intensidade, liberta-te de ti e nos alcança o olhar].
Estrelas, como vós, são infinita explosão.
Iniciam e encerram-se em si mesmas.
Mas, iluminam muito além de si.
[Tens vida própria, mas anima vidas outras].
Entretanto, mesmo as mais belas estrelas,
De qualquer ordem ou grandeza,
Quando vistas com muita proximidade,
Ofuscam os olhos de quem as vê.
O que poderia parecer incômodo,
Se na verdade, elas não estivessem a nos oferecer,
Uma nova possibilidade de olhar.
Enxergar de perto a estrela que és,
Requer uma sensibilidade que nem todos possuem.
Mas que graça teria afinal?
De atrair olhares, se não os mais atentos?
[Explode. E não te deixes nunca arrefecer].
Só as estrelas podem entender a magnitude do céu.
E não lhes cabe lugar melhor no mundo,
Que o universo inteiro - vai ver por isso ele é tão repleto delas.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Rasgos de luz (inspirado no filme-documentário "Born into Brothels" de Ross Kauffman e Zana Briski)

Assumo-me contradição, aí se deita meu equílibrio, aí afago a harmonia. Não mais quero agarrá-la, sugá-la de temperos, pois assim sou eu, não plana, sou curvílinea... O espelho sempre me fez adivinhar. A natureza dá-nos pistas. Hoje enxergo-as, e gosto-me assim, sem rectas a não ser as que traço a cada passo que me destino a dar... Não tenho destino , ou melhor , tenho-o traçado nas curvas que me sulcam a alma... Estou destinada a Amar, perdida e incondicionalmente. Sou Amante e não sei fazer a vida senão assim.


















Revejo-me em cada olhar de esperança, não gosto de ter pena, prefiro agarrar-me ao pensamento contrário, ao que constrói, aquele que sonha e traça um rumo para lá das compaixõezinhas dos que sentem que, por tê-las, podem dormir descansados... Não acredito na pena e só creio na compaixão activa, naquela que intenta, inventa, vai e faz... A pena nada faz a não ser por quem a sente, que assim se pensa bom, humano, próximo dos que sofrem. No fundo a pena é não mais que uma redoma, leva-os para o porto seguro da consciência tranquila, leva-os à sensação de serem bons homens e mulheres, bons cristãos. Pois que se esforcem, visualizem criativamente a diferença... Vi-a nos olhos de Avijit: o menino fotógrafo da Índia (in Zana Briski and Ross Kauffman's "Born into Brothels")...
Tinha os olhos rasgados pelas lágrimas que a vida já o fizera presenciar, ainda que não fossem suas, tinha neles muitas lágrimas emprestadas. Vivia na zona de prostituição de Calcutá e é especial. Tem um dom, consegue ver clínica e friamente tudo aquilo que vive diariamente desde que nasceu. No entanto transpõe emoções infindáveis, cruas, despidas nas suas fotografias. Também pinta maravilhosamente, o que já lhe granjeou vários prémios que a avó mostra orgulhosa para as câmaras.
A maturidade não lhe é contornada pelos anos (11 no filme), mas pela alma. Avijit é grande em qualquer idade e em qualquer lugar do mundo. É daqueles que tem um qualquer lugar só dele e consegue, através da fotografia, da pintura, abrir janelas da alma.
A fotografia tem sido companheira, motor de sonhos de Avijit e de outros companheiros, meninos e meninas que vivem também na zona de prostituição de Calcutá, filhos de mães prostitutas que convivem a cada dia com a morte dos seus sonhos. É difícil acreditarem que vão conseguir estudar, ir para a universidade, ter uma vida escolhida. Mas o Universo envia presentes. (Não nos podemos é esquecer de pedi-los. SEM MEDO!) Um deles foi a fotógrafa inglesa, sediada em Nova Iorque, Zana Briski, que eles carinhosamente chamam de tia Zana. Zana não se limitou à pena, foi lá e fez acontecer.
Zana chegou à Redlight (bairro da luz vermelha - zona de prostituição de Calcutá) para fotografar os bordéis e as mulheres que neles viviam. Mas apaixonou-se por estas crianças e criou, não se limitou a reagir. Começou por dar a cada menino e menina (no total são sete) uma máquina fotográfica e começou a dar-lhes aulas de fotografia, tudo isto para que o mundo visse como eles vêem. Estas sessões semanais com a tia Zana, alguém de tão longe, que sonhava junto a eles, relembrou-lhes que tudo é possível, quando já começavam a esquecê-lo... Voltaram a sonhar. Sonhavam poder estudar, poder ter uma vida melhor fora daquele cemitério de sonhos. Antes Avijit dizia mesmo: "não há a palavra esperança no meu futuro". No entanto tudo mudou...
Avijit destacava-se e imprimia força em cada olhar da sua câmara. Aprendeu a usá-la como uma arma e percebeu que a força desta era muito mais poderosa do que a de tiros. O seu carisma e talento garantiram-lhe o convite por parte da World Press Photo Foundation em Amesterdão, para ser parte do júri de Crianças de 2002, que reunia crianças de todo o mundo. No filme vemos como é emocionante para Avijit ir a Amesterdão... Diz mesmo que não pode perder o avião, porque vai realizar os seus sonhos... O menino que não via esperança, pois as lentes da sua máquina fotográfica não reflectiam nenhuma, passou a ver um futuro, uma realidade construída em cima de sonhos... Havia um caminho, tinha que segui-lo.
Mas não foi fácil e vemo-lo ao longo deste documentário, desta saga em busca de sonhos, ou apenas de poder sonhá-los...
Todos estas crianças cresceram em bordéis, brincando em cima de telhados, enquanto suas mães, avós e tias se prostituiam em "baixo do seu chão". Desde cedo aprenderam a aceitar o destino, pois o livre arbítrio estava-lhes vedado. Todos eles começavam já a perder a luz dos sonhos no olhar. Zana resgatou-a com o seu projecto Kids with Cameras. Mais do que um sonho, ela deu-lhes ferramentas para sonhar. Mas urgia tirá-los de lá, daquela zona estéril de oportunidades.
Embora crianças, quando falam da sua realidade, enrijecem-lhes os olhos, principalmente a Avijit, que não vê pernas para os sonhos andarem na Redlight (bairro da luz vermelha - zona de prostituição de Calcutá). Avijit vê mais além e não gosta do que vê.
Durante as filmagens a mãe de Avijit morre, supostamente pela mão do homem que a explorava. Avijit que até então, era o mais concentrado na fotografia afastou-se, desinteressou-se, como se o mundo lhe voltasse a lembrar qual o seu destino. Para além da mãe, resta-lhe a avó. Fala com tristeza do pai, que recorda, pela boca dos vizinhos, como tendo sido forte e capaz de derrubar dois homens. Hoje o pai entregou-se de vez ao vício de haxixe, e mais não faz do que dedicar-se o dia todo a esta tarefa. Não reage a qualquer estímulo vital, vive adormecido, escolheu viver anestesiado e abandonou os seus. Avijit olha-o como se não fosse mais seu pai, o outrora corpo robusto transformou-se no homem frágil que as câmaras retratam, enquanto Avijit narra sua história. Avijit não tem no pai qualquer apoio, pois que dele apenas tem o corpo , pois há muito que ele não o habita. E perdeu a mãe, a sua querida mãe que tanto amava. Mas Zana sabia que por detrás daquela dor, que se manifestava agora através de apatia e do abandono dos seus sonhos (pois Avijit deixara de fotografar e pintar), havia uma luz poderosa moldada pela alma grande de Avijit e não desistiu dele. Apercebeu-se que aquele momento era crucial. Ali se definiria uma vida cheia de possibilidades, ou mais uma entre tantas outras daquela zona, exactamente escura, igual.
Zana tratou de tudo para fazer a diferença, para construir um novo fim para estas histórias, para que não se repitam uma vez mais padrões genéticos, como se o destino estivesse agarrado ao ADN destas crianças. Zana tenta encontrar escolas, internatos que recebam estas crianças, que as alimentem, estimulem, e, acima de tudo que as mantenham longe da Redlight (bairro da luz vermelha - zona de prostituição de Calcutá). A tarefa não foi fácil, pois tinha de procurar uma escola para as meninas e outra para os meninos. Mais que isso, uma instituição disposta a acolher estes filhos de prostitutas. Seguiram-se esperas intermináveis, nãos atrás de nãos, testes de HIV e burocracias inúteis que ameaçam qualquer vontade de mudança.
Mas tudo mudou. Ela foi lá e fez. Não se limitou à pena, que apenas recriaria o passado na vida destas crianças. Criou oportunidades, algo que de nascença lhes havia sido ceifado. Hoje Avijit estuda numa excelente escola nos Estados Unidos com uma bolsa de estudos. O futuro adivinha-se diferente. A palavra esperança, que não existia no seu futuro passou a existir no presente.
Zana conseguiu reescrever a história... E Kids with Cameras continua pelo mundo fora, para nos lembrar que há olhares bem diferentes do nosso e que há visões que o nosso olhar não alcança...
Rasgos de luz que de quando em quando nos levam a ver mais além.

By Avijit


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