No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Turva

Procuro-te nas ruas despidas,

Nas telas de pele esticadas, tingidas

Nos corpos desmaiados,

Reféns dos sentidos...

Perdidos por entre passos

Certos, dispersos no chão,

Preenchem espaços lassos,

Fazem do tempo um homem néscio,

Rompem no resquício vão,

Surgem desertores e desertos,

Dentro de casulos

Que extinguem crepúsculos...


Assumem-se almas sem tecto

Daquela prisão a céu aberto.

E por entre ruas vasculhadas

Vagueio, acendo um cigarro,

E na nuvem de fumo

Traço meu rumo.

Encontro teu vulto num carro

E aquela visão turva,

Que me espreita a cada curva,

É lavada pela chuva...

Enxuga-me a mente,

Levo o cigarro à boca,

Na esperança oca

De me manter quente,

E crente no que me assombra.

E aquele passo para a paz

Num passo à frente se desfaz...

domingo, 23 de novembro de 2008

Subversão

Alguns confessam-se a padres, outros às paredes, outros ao espelho, eu converso com o último, e entrego-me e arrasto-me pelas palavras. Só a elas segredo o que ninguém desconfia gritar em mim. Preciso delas como de ar, elas enchem-me a mente de tal forma, que por vezes penso que a loucura é meu berço, e que a sanidade é apenas o véu de tule que o cobre. Mas são o barro onde me moldo a cada dia, nelas me ponho real, ou na ilusão que quero ser, ou apenas na ficção que me entretém o tédio. Nelas te expulso, por momentos, de mim.

Elas sabem, repetem-se tantas vezes, sabem que tento sair do casulo do orgulho e evolar-me da sanidade e ser solta no prazer mediato, profundo, que é sermos quem somos sem o pensar, apenas sendo. Cada vez mais me permito. Mas com ou sem orgulho tenho saudades, de ti. Mas não te digo e não por ser forte, antes por ser fraca e por nada querer de ti. Não quero palavras meigas, condescendentes, apenas quero que me escutes e me acolhas nessa saudade, que me tomes como só tu sabes, pois aí, nesse lugar que apenas nós conhecemos, por instantes, pertenço aqui, de forma sublime.


As palavras dançam dentro e sob meus dedos e sabem o sinónimo de saudade, sabem escrever-te, mesmo que nunca me denunciem, pois vives nas minha entrelinhas. Estás sempre lá, e quando te fujo acabo sempre por voltar a ti, a saudade resgata-te sempre. Não te prendo a nenhum desejo futuro, aliás não te prendo a nada, e no entanto nunca tive tanto ninguém. Acho que inverteste mais do que a minha lógica, subverteste-me de tal forma que cada vez mais quero ser eu. Talvez por isso te queira tanto. Talvez por isso te deixe longe.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Pelo cansaço...

Choro sem qualquer pena de mim e dos outros, apenas com a displicência de roubar-te meu espaço. Tarefa árdua, pois difícil é libertar-me do que me é impossível a posse, e trazer-me de volta quando saí pelo meu pé.
Talvez sejam simples lágrimas de capricho, de menina mimada que quer tudo aquilo que anseia. Anseio pelo insuflar desse meu mimo, que te transforme apenas num capricho travesso da minha alma. Que sejas apenas a revolta da menina mimada que me habita, acostumada a ter o que deseja. Que seja, que não sejas mais, pois o mais que temo, leva-me a um lugar a salvo de lágrimas, árido, pela erosão das ausências, das mágoas não choradas, resvaladas no desfiladeiro das expectativas.


Onde foi que me deixei achar por ti, ou onde foi que te achei? Sei que foi num lugar onde acordo com o teu cheiro, e onde me apertas contra o teu corpo daquela forma que não tem jeito, apenas o teu.



Mas ainda vivo na esperança de seres apenas inspiração, que gerei em mim, que me revolve e inquieta e que faz querer mais, e esta sede transborda nas palavras, espero seres apenas a ilusão constante que preciso para viver, para que o tempo te esgote, e te vença o cansaço das mesmas palavras que se cansaram de ti.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Vertigem

Vertigem cansada a que nos faz cair, sem sequer nos levantar os pés do chão, prostra-nos ao conforto do asfalto, quando na verdade a inércia de nossas almas clamava pelo calor do alcatrão... Pelo roçagar da gravilha em cada pedaço de pele.... E marcar aquilo que apenas nós víamos.
"Timing"... Esse tempo indefinível que todos querem ter a noção de. Isso, esse momento sagrado que não existe, esse tempo em que almas esquecem o tempo, e existem, navegam sob as ondas magnéticas da mesma frequência. Quando isso acontece, razões amortecem, cedem a paixões, amores épicos se constroem, projectos nascem, invenções deixam-se adivinhar... Ganha a Ciência, o bem, o mal de alguém... E a Humanidade, porque convenhamos, se amanhã me cruzar com alguém, que seja bem amado, ou cientista para me dar a fórmula.
E naquele tempo congelado , o tempo do "timing" , os ponteiros do relógio abandonam seu posto e conforta-nos a ilusão de imortalidade carnal. E assim, pelo afago do terno e nervoso músculo que nos embala, naquele seu compassar certo, sequenciado, sem saber bem como ou porquê, salta-nos do peito, as batidas outrora calmas e a seu tempo, perdem o rumo e soam frenéticas, levam seu eco a cada canto do corpo, outras vezes, coisas há que nos param essa batida, que nos espessam o sangue, de tal forma que sentimos cada cheiro, toque, com uma urgência jamais sentida, que só a pressão de suster a vida naquele momento nos dá, tudo para enganar o tempo, mudar-lhe a frequência... Poucas coisas nos fazem parar, poucas nos aceleram a respiração como se quiséssemos viver mais, estar mais vivos, ou como se quiséssemos comer o tempo para chegar lá ou ao outro. E depois parar de novo, ali permanecer, perenes. Ali, naquele lugar onde não existe tempo ou asfalto para nos rasgar a pele, onde nada faz sentido, porque todo ele está em nós. E nada nos cansa nessa vertigem. Esse tempo, que é só meu, ainda não sei onde está... Fé, trago sempre, em mim, na mala, num sorriso de alguém, num abraço. Relógio, raramente uso... Só preciso de deixar de perguntar as horas.