No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Comigo

Acordei com vontade de estar comigo. Aprendi a tirar forças da solidão. Tal como o silêncio, há solidões cúmplices... Aquelas em que nos damos a nós mesmos. Aprendi que quando tudo se cala, Eu falo. Não o soube logo, mas hoje escuto-me, perscruto minha alma a cada investida a um qualquer lugar para estar tão somente comigo.
Perco-me na multidão com o prazer de saber que sendo mais uma no emaranhado de gente, sei a Uma que sou. E no nada que há dentro de mim resgato-me... Na apatia e na inércia sou acção, Amor.

(Des)Encontro

Ele olhou-a continuadamente. Observou atenciosa e deliciadamente a mulher que diante dele se mostrava. Não conseguia desviar o olhar, e, todo e qualquer desvio que tentasse, sucumbiria nela. Ela era assim, majestosamente fémea, deliciosamente menina. Apaixonou-se no mesmo instante que os seus olhos comeram os dela, e sem querer, percebeu que ela o havia sugado... Ele era a presa.
Sentados lado a lado numa mesa de café, eram dois estranhos que se tinham descoberto na intimidade dum olhar. Aquele olhar podia tudo e podia nada ser. Era necessário agir... Verbo dos amantes, dos que querem amar.
Ele decidiu que não podia perdê-la para o mundo. Fez sinal ao garçon e entregou-lhe um bilhete, tal qual colegial que passa um bilhetinho para a mesa vizinha.
Ela sorriu como se tudo fizesse parte de um grandioso plano arquitectado numa outra vida, e ela, obviamente, como mulher acima dos homens, sabia-o.
O bilhete dizia:
- Olha-me! Eu olho a cada instante, porque mais não posso senão olhar. Sinto-me puxado para cada detalhe, para cada mexer de pernas, braços, perco-me até na tua sombra. Olho, não porque te estranho, mas porque estranhamente sempre te vi.
Teu.
Ele esperava impaciente a reacção daquele ser, que tanto lhe tinha dado a sentir naquele fim de tarde, recortado a meia luz, disperso pelo meio da semana, perdido entre o dia e a noite. Também ele se perdera.
Ela tirou uma caneta da mala...
O garçon voltou e trazia na mão correspondência:
- Olhar-te-ei com o prazer de saber que olho para alguém que me vê... Também eu te vi.
Quando levantei os olhos do recorte de papel que ela me enviara... Caíra a noite. Ela não mais estava. Já não entendia nada. Aquela mulher que me continha desaparecera. Porquê? Também ela o sentira. Porquê? O que teria acontecido... Fugira de mim... Porquê?
Interroguei um a um os empregados daquela, até então, pacata esplanada, e nada. Ninguém sabia de quem se tratava, nunca a tinham visto. Cheguei a pensar que havia imaginado. Duvido de mim próprio. Busco-a no mundo e em mim. Senti-me menino homem, sem medos, apenas com uma irresistível vontade de amá-la. Ela não quis? Não sei que pensar, mas sei que também ela sentiu algo, e o seu bilhete confirmou-mo.
Passei a ir todos os dias ao local do crime em busca da criminosa, que ao invés de matar-me, me deu vida...

sábado, 26 de janeiro de 2008

Sombra

Eu vi-te e sei que me viste... Ambos fingimos não ver, e dançámos com os olhos para outros palcos... Calámo-nos numa ignorância muda que não há voz que acorde... Fui embora.
É tarde... O sol já nasceu.
Não consigo dormir. As minhas pálpebras teimam em não cair. E prostrada na cama sinto que a única a cair sou eu, tudo o resto me abandona, a noite, o sono, Tu.
A descrença num sono descansado mantém-me desperta, alerta... No fundo sei que te espero... Por que não consigo dormir? Será por ti? Pela ânsia que ver-te provoca em mim? Será que me culpo, pelo que poderia viver? É isso! A culpa de todos os males é a culpa e a minha não é excepção. Que originalidade! Nem na culpa me basto. Quero mais!
Quero viver-me! Quero não mais querer ver-te, ter-te, mas apossaste-te de mim! Mesmo longe sinto-te perto, escuto o teu respirar a dormir a meu lado na cama. Não consigo mais ser peça solta sem ti! Mas mandei-te embora! Para expurgar-me, retornar a mim... Perdi-me em ti e contigo... Não quero, não posso! Mandei-te embora e agora não consigo dormir. Meu corpo não obedece e mantém-se desperto. Como que em vigília, espera-te. Mas tu não voltas. Voltas? Mandei-te embora...
Expulsei-te e hoje sei que também eu me fui de mim... Será isto o Amor? Que nos tira o sono, a fome, o gosto de tudo o que não tenha o teu?
Tive medo, confesso, e comandei o barco para não navegar em tão instável e sôfrega condição. Tracei nova rota... Mandei-te embora.
Hoje sou sombra, mutilada, alheia a mim... Sem vida. As sombras não sonham...
Não consigo dormir.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Náusea

Arrastei-me da cama e surgi diante mim... O corpo entorpecido bamboleou numa dança com as paredes e naquela dança zanga de corpo desengonçado percebi que, mais que o dia, havia algo que não via... Larguei o espelho.
Enfiei-me nos primeiros jeans e t-shirt que encontrei e com o cabelo de noite revolta agitei-me para a rua. Sentia-me anestesiada, mas com uma dormência boa... Não daquelas que nos ceifam os sentidos, mas daquelas que nos tranformam neles... E de tanto sentir ficamos dormentes. Respirava como se o ar me pesasse. Precisava comer. Tinha fome de vida, era esse o nome da minha náusea... Fui comer.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Melancolia

Melancolia... Tem som de mel,
De doce amargo, de mar.
Frutada palavra, apaixonada,
Desprezada, abandonada
Rebola na língua
De revolta alma.
É tua, minha...
De quem a ela se entrega
E de quem ama
E teima em amar.
Existe, é, Sou...
És melancolia, está em mim
No fado que vivo e canto,
No tanto que te quis e tenho.
Na saudade esquecida
De uma outra vida.
Melancolia... Frutada palavra
Que trinco, chupo-lhe o sumo
Não a temo
Está em mim,
Mas não me contém.
Vou mais além: Amo...
Depois de amar.
Como-a sem desejar,
Por vezes habita-me, devora-me,
Mas não me detém.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Insondável

Permaneço insondável... Dizes...
Sem dizer a que venho,
O que tenho, o que quero de ti.
Não penses que por nada querer...
Talvez pelo tanto que te quero
Permaneça indecifrável... Não me penses.
O Nada não é ausência... É a liga de tudo...
Liga-me a ti.
Por vezes o tanto que quero
Cria-se no vácuo, quando me sinto oca...
Até um novo ressoar,
Um qualquer eco
Que se solta, toca...
Tocas-me, sondas-me
E, no entanto, pareço-te insondável...
Talvez nessa densidade
Se misturem sons, vazios,
Frios na espinha, a tua mão na minha.
Torno-me mais tua,
Pois só tu não me vês assim,
Sem liga... Entre o tudo e o nada.
Sou os dois, sem nunca ser coisa alguma...
Perco-me...Posso perder-me em ti...
Dou-me... Mas não me sentes como tua.
Escuta o eco... Persegue-o...
Vou lá estar.
Permanecerei insondável,
Para que jamais me descubras
E te tentes pela razão.
Quero-te intrigado,
Enleado na paixão...
Curioso, ávido de mim.
É a forma de até mim chegar
Vem... Estou presa no eco,
Solta no silêncio... Nosso...
No tanto... No nada... No rasto que se forma...
Num qualquer sim, não,
Vem até mim...
Não te espero, não quero.
Caminho a teu lado.
Criar-me-ei contigo, em ti...
Louca, numa qualquer toca
Oca, onde ressoa o eco...
De nós... Descanso no silêncio...
Escuta-me na ausência de som...
Não me penses... Não me tentes...

Espelho

Vieste sem que te notasse,
Tornaste o ar leve...
Ao mesmo tempo pesado,
Para que me faltasse.
Preencheste um vazio cheio
De um corpo torpe, cansado,
Que involuntariamente,
Sentiu aquele ar leve, quente
Peito adentro... (Já) rasgado...
Preencheste a fenda.
Percebo agora que o Amor
É involuntário, reflexo... Espelho
Do mesmo medo que estagna o ar,
Que o congela, cristaliza,
E, que do nada... Pára... Idealiza...
Voltei a pôr a venda.
Os músculos imperceptíveis da Alma
Retomam seu posto de amantes.
Abraçam palavras ternas,
Tornam-se bem falantes...
Renascem... Voltam, dão-se à vida,
Sedentos de ser prenchidos de ar,
Do fogo que os cansou...
Consomem-no...
Volto a respirar, voluntariamente...
Volto a amar...
É um reflexo de mim,
Do qual foste e és espelho...