No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

domingo, 31 de maio de 2009

Entre paredes brancas...

Ela chegou e os dois rodearam-se num abraço que nada tinha de amigo, mas escondia uma amizade gigante. Comeram-se com o fervor de quem faz algo errado, e talvez por isso lhes soube tão bem. Não falaram, apenas sussurraram palavras que pintaram de libido as paredes brancas da sala...

Quando o sentiu dentro dela soube-se viva, e ele soube-se capaz de chegar ao amanhã.

Nada importa, o que é certo deixa de o ser , ali, as leis transformam-se numa harmonia transtornante. Eles entendem-se, mesmo que seja errado, ou apenas porque sabe bem. Os dois podem descansar um no outro, e ali, tudo pode ser.

Com o cheiro dele espalhado na pele, abraçando-lhe a alma, e de cabelo emaranhado, foi embora.
Ela sabe que se querem bem, ele também... O resto apenas existe para os restantes.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Antes do Inverno acabar

Veio-lhe naturalmente à boca o travo amargo de medo, o medo de ser feliz... De ceder a esse instinto natural. Só teve tempo de se esconder atrás da cortina de cabelos, que a tornava ainda mais flamejante.
De soslaio ele olhava-a, e mais não queria do que abraçá-la, suspendê-la por momentos, como se esse tempo não existisse, para que ao abrir os olhos, ele fosse a primeira coisa que veria. Jamais tivera pensamentos românticos assim, daquele jeito, rocambolesco, melodramático. Mas aquela estranha, tinha alguma coisa, de estranhamente delicioso e familiar... E apenas lhe apetecia agarrá-la pelos cabelos e sussurrar-lhe palavras tolas, por entre beijos e o roçagar de peles. Contorná-la com suspiros e tê-la sempre na ponta do lápis que rasga o papel que tem, invariavelmente em branco, em cima da secretária, à espera de ser revelado. O que tinha de poético, sugava-se na força com que lhe aquecia cada poro, e com que lhe atiçava a mais entranhada das libidos. Não sabia ser assim. Desejar dessa forma uma mulher. Não sabia se não querer ter. Era-lhe estranho aquele sentimento, que era livre, mas que de tão grande, se lhe colava à alma e se contorcia em seu corpo.

Falaram brevemente, reconheceram-se, não morassem quase a paredes meias....
Mas demoraram tanto a descobrir-se... Ou talvez precisassem de mais tempo.
Como nunca se tinham visto é que ele não entendia. Ela também não. Mas ali estavam frente a frente, e sem saberem de onde, gritava aos dois uma vontade de trincar sonhos a dois e de passar noites entrelaçados. Se cedessem às vontades, ter-se-iam naquele momento, mas com aqueles dois, possuir não se figurava, e os dois voaram para longe um do outro. Cada um com um calor novo no corpo, que só era acalmado pelo senso da razão, quase sempre comum, e despido da graça da surpresa.

E o tempo seguiu seu rumo, o Outono entrou sem perguntar se podia arrancar as folhas de cada árvore que gentilmente despia...

Também ele a despiu sem pedir. E quando finalmente se beijaram, já lhe conheciam a coreografia, ainda que nunca antes ensaiada. Apenas antecedeu um olhar fulminante, e olharam-se de tal forma, que ali mesmo se deram, distraíram as mentes, tudo o que dentro delas dizia que não podia ser. E ali foi, deixaram o desejo ser, pois não sabiam se não ser um do outro, ainda que por momentos. E nessa noite dormiram bem amados... Acordaram envoltos em cabelos dourados, que gentilmente, uma vez mais, escondiam o medo.

E o Inverno entrou Outono adentro, e de rompante, tomou-o nos braços. Este cedeu.
Os dias tornaram-se menores e mais propensos a arrependimentos, pois neles cabia menos tempo, aquele que apenas existe quando nos falta.
E de ansiedade posta na alma, sentia em si cada gotejar de chuva, cada vento frio que se instalava na cidade. Sentiu-se também ela exposta a correntes frias, pois não sabia mais nada, apenas que tinha de partir antes dele. Antes do Inverno acabar, ir-se-ia embora. Não esperaria pela Primavera, não se deixaria tentar pelo Verão, não merecia que este lhe esquentasse a alma, e lhe fizesse perdoar a si mesma ser cobarde.

Perguntava-se a si mesma, se este medo, mais não era do que o desejo novelesco de que ele para ela corresse, assim que ela lhe faltasse. Não, ela não era assim, e tinha por ele um amor grande, solto dos pensamentos alheios. Não temia que fosse de outra, de outras, pois inevitavelmente, estavam, inexplicavelmente ligados, mas livres de possessivos. E que querer era aquele, não sabia, pois mais não cabia nela, tamanho era o temor de que crescesse. Que a tomasse no seu todo, de tal forma, que mais não soubesse ser, se não assim.
E de alma rasgada saiu, antes que ele chegasse.
No fogão, ainda quente, repousava o prato preferido dele. Pela última vez pôs nele todo o seu amor, pensando em cada salivar que lhe traria, na sensação de ser, por ela, amado. Esperava, que tal como o prato de comida que esfriava, sob a noite fria, também ele cedesse... Pois se a detivesse, só tinha uma opção...
Ser feliz... Ainda não cabia no seu tempo...
E o Verão chegou... Os dias cresceram, mas não se perderam ainda do tempo. Pelo menos não para ela. Não para ele.
E perdidos um do outro, ainda hoje se têm...
Não mais se cruzaram.