No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Trilha

Há uma qualquer sensação que hoje está aqui , ao meu lado, em mim, escuto o Nando (Reis) e espero com ele o segundo sol. Mas hoje acordei com vontades abstractas e contornos que não se vêem, mas que me apalpam os sentidos...
Comi tudo o que encontrei no frigorífico, esvaziei a despensa, mas continua a faltar aquilo, aquela coisa que de facto me iria calar a fome... Não sei se já não sei amar ou se não mais me deixo dar... Ou se apenas o guardei para mim, para ti. Mas hoje o astro rei, como um segundo sol, aqueceu em mim um lado quase pueril, uma qualquer coisa que derrete há algum tempo em mim... Uma meninice até para mim inesperada, mas confesso, encantadora de voltar a encontrar... Um não saber mais o que sinto, pois já passou a tristeza, já passou aquele amor que era maior do que eu e que me entregou ao chão... E agora? NÃO SEI!!!! E é tão bom não saber de novo, e dizer que não sei, e não sei mesmo, e o não sei pode saber a tudo, pode tudo... A liberdade desta negação de saber sufoca-me de possibilidades, a sensação de que voltei a ver hipóteses de errar enternece-me... Voltei a mim, à roda que gira a minha vida e me faz sempre mais viva e me leva para qualquer lugar, pois não tenho hora para chegar, e já me tenho.
Pensei como tantas vezes me humedece a língua e trilha pensamentos o processo, o acto criativo, a arte, e namorei esta ideia que é para mim amada, presente, real... Que quando escrevo, vivo, amo, dou, sou, actuo, brinco, o que mais me fascina e onde existo, onde me suplanto, onde sou maior do que algum espelho poderia desenhar, onde estou viva e vivo, esse lugar é aí, quando actuo, crio, amo e a coisa criada, o objecto de sonho, o ser amado se fundem de tal forma que não sei mais se criei ou fui escolhida, se toquei ou fui tocada, se sou parcela ou resultado, se não me transformei de tal forma que ali me criei, ali existo, sou essência, sou eu cria e criada, pois quando me misturo e enleio no outro, na prosa, na poesia, num outro outra vez, ali sei-me coisa com vida, sei-me, sou amor, obra, arte, artista, vida, amante e amada. Cada momento destes adia o meu suicídio. Cada momento destes traz de volta à língua o gosto de vidas perdidas e por viver, reminiscências que me fazem ser pó, e tudo.
Hoje acordei como sempre fui, ou melhor, como já fui, fui em tempos, ou pura e simplesmente com uma sensação familiar, inundada do que sempre foi em mim real... Um entusiasmo sem nome nem rosto. E não sei se o gerei ou se sou gerada por ele.... E sinto-lhe a falta de olhos, de boca, de braços para me agarrar e me fazer sentir escolhida, preferida, de um arranhar de ouvidos com um refrão rouco de músicas tolas... Mas estou sem ânsias ou mágoas, fecho os olhos e sou como uma viajante num balão mágico e mandei fora todos os sacos de areia que pesavam, que me prendiam a um real que não acolhe nada para além de náuseas...
Comi tudo e a a sensação de náusea é crescente, e de tédio, pois de repente sinto tanto em mim e nada acontece à minha volta, nada me traz sabores novos à boca... Apenas me puxam o vómito e precipitam o passado. A repetição com que brindo por vezes os meus olhos começa a cansar-me de tal forma que o meu corpo se rebelou e hoje acordou apaixonado, sem destino nem necessidade de caminhos... Eu sou a trilha que trilho.