No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

sábado, 23 de outubro de 2010

Vida Consumada

Não sei a quem me dirijo, ou dirijo-me aquela que às vezes não sei ser, àquela que de facto sou.
Por vezes, quando me sinto triste, dizê-lo alto, torna-o ainda mais triste, como se fosse a única coisa que partilhada tomasse mais dor, ficasse pior, ou pura e simplesmente, como tudo o que é partilhado, se tornasse maior. Mas este maior não sai de mim para encher o outro, não se divide, apenas despedaça mais, como se ao pronunciá-lo, o que apenas eu sentia, se tornasse verdadeiramente real, meu, ou em mim. Não mais é indigestão mental ou tédio, ou um prazer inventado, de alma subitamente desapaixonada. Outra das coisas que me desapaixona, ou me sente triste, é essa coisa de não pôr nada na alma. Essa coisa de alma ociosa que não come nem se dá a comer, que não ama, não pode, não sofre, e nem pelo menos se finge, faz inventiva, capaz de criar uma qualquer pirueta, um amor, vagabundo que seja, uma qualquer transfusão de vida, de coisas sem nome, mas com cheiro, de dentes que trincam, mas não comem e escutas que não se pedem, perscrutam, por entre músculos e dentes e lábios que se abrem apenas para silabar o que só quem não espera entende.
Mas voltemos à tristeza, que mais não é do que intervalo, uma aia, experiente e experimentada, sempre lá, aqui, e é tão minha, mas não sou eu. Sei tê-la sem transformá-la em mim, e por muito que muitas vezes a esqueça, várias me lembra que não se faz estranha.
Quando a digo cresce, ou melhor nasce, e só quando assim é, quando a sei, entre nós, me permito vivê-la, e deixá-la. Se assim não for, é ela que nunca me deixa, que silenciosamente me arranha por dentro e me entrega às coisas que tal como ela não se vivem ou assumem vivas. Até a tristeza precisa ser consumida para se consumar vida.

sábado, 18 de setembro de 2010

Flui

Decidi não te escrever, como se escrever-te me fizesse partilhar-te, quando me sinto como uma menina mimada que ficou com a massa de bolo para raspar e não quer dividir com ninguém. Confesso também que ser que vive tantas vezes para contar, desta vez decidi ser apenas e abandonar o lugar de vigília, de contadora de histórias. Mas o tempo vem e vai e dá voltas em mim, à minha volta e sinto que esta coisa sem nome tem que sair de mim, como se de repente eu já não precise que sejas meu, ou não me importe com agoiros, pois tudo o que é, é. E não há palavras que toldem a história de outra forma, pois ela respira para lá destas linhas, e se é maior, flui.
Em busca da fluidez, assim me sinto. Acho que chegamos a um ponto do nossa complexidade esquizofrénica em que a fluidez de movimentos de corpo e de alma pende de tal forma nas nossas vontades, ou rasgos de fé, que se faz caixa forte dos nossos desejos, anseios. Descubro-me ansiosa só de sentir que tudo pode obedecer a essa corrente que segue e mesmo quando se aquieta, é viva. Essa coisa de imitarmos a natureza, de fazermos das emoções, rio, mar, oceano seja a escala a que nos aprouver, agrada-me. Dá-me uma sensação de estar menos só, de ser parte deste mundo. Quando tudo flui, continuo a ter dúvidas, mas de repente parece que não me incomoda tanto a espera, só isso, simples assim. No fundo sei-me da complicação simples que se quer dela e de todos. Sou ser simples, avessa a complicações mundanas, o que me complica são as questões que me detém e me contém e não a logística ou coreografia da minha dança para quem não me tem. Às vezes gostava de ser ser mais quieta por dentro, porque cansa... Cansa...
E no meio de tudo isto que não sei se sou, vi-te pela primeira vez... E foi tudo como se fosse a primeira, mas uma primeira que me trazia memórias que não tenho, que me trouxe sensações que o tempo deste mundo não cronometra, fracções de um tempo ainda não inventado.
Quando te olhei, tudo me desprendeu dali, mas duma forma estranha, como se de repente me esquecesse de tudo o que os sentidos vêem, e só me sobrasse o que não é "pensável", restaram-me uma visão deturpada encadeada por uma luz qualquer que saía de tudo e uma qualquer coisa que se assemelhava a um não sei, ou a uma cola tudo, que me fazia querer ficar ali, sendo o ali qualquer lugar onde te tivesse... Um não descolar daquela voz que de repente me mudava o ouvido, me ensinava nova escuta, um olhar que me fazia sentir eu, e uma energia que me devolvia a casa... Acho que no tempo dos homens, posso dizer que me apaixonei ao terceiro minuto, e a cada minuto confirmava o que não podia deixar de ser. A forma como tudo parecia natural, fluir, uma familiaridade que de inexistente, apareceu desde o primeiro instante como achado, uma empatia que ia para lá de qualquer empatia, recordando-me todas as coisas pirosas que se dizem sobre estes momentos, todas as comédias românticas, todos os folhetins de cordel... Falámos horas, e o tempo atravessou-me sem que o notasse, pois só te sentia ali.
Tudo em ti me parecia diferente, como se fosses ser único, sem paralelos, tudo em ti me remete ao espelho, me acolhe . Tudo em nós não obedece a nada, e não se dá a regras, à ordem das coisas.
Tudo sem ti me traz saudades, como se não mais soubesse não ter-te perto, ou como se secretamente gostasse de te ter longe para me saber fraca. Ou pura e simplesmente como se sempre te esperasse.
Tudo volta quando me olhas como só tu sabes, daquela forma, como se só me visses a mim, como se sempre me achasses.
Sempre que me lembro da primeira vez que te vi, conheci um desejo sem igual e sem corpo... Acho que só ao fim de 3 minutos e já enfeitiçada, te vi as pernas, cada músculo, cada contorno... Até lá contornavam-me sensações, uma sensação de estar bem, mas um estar bem tão bom, que queria ficar naquele lugar para sempre... Esse lugar que és tu, sou eu, que não começa nem acaba, existe.
E embora com arrepios na espinha, não me deixavam nervosa, e nada do que dizia era filtrado, como se tivesse encontrado o soro da verdade, da minha, como se perto de ti não conseguisse fugir de mim. Tudo é natural, não pensado, corre... Uma sensação de estar protegida, sempre que me dás a mão, de querer ficar ali, apenas porque sabe bem, porque me entrega às sensações que não são complicáveis. Ali existo. Sem véus e distante de mágoas. E confesso que não me tento a proteger-me, não temo. Por mais que a razão me segrede coisas ao ouvido, não escuto. Sei que estou a ir contra a lei das probabilidades, mas esse teu gosto a impossível, a sublime, tenta-me para lá das minhas faculdades mentais, para lá do meu ser cognoscente. E esse teu domínio do meu inconsciente, levanta-me as saias (da alma) e mata-me os medos.


Agradeço o presente que é sentir.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Trilha

Há uma qualquer sensação que hoje está aqui , ao meu lado, em mim, escuto o Nando (Reis) e espero com ele o segundo sol. Mas hoje acordei com vontades abstractas e contornos que não se vêem, mas que me apalpam os sentidos...
Comi tudo o que encontrei no frigorífico, esvaziei a despensa, mas continua a faltar aquilo, aquela coisa que de facto me iria calar a fome... Não sei se já não sei amar ou se não mais me deixo dar... Ou se apenas o guardei para mim, para ti. Mas hoje o astro rei, como um segundo sol, aqueceu em mim um lado quase pueril, uma qualquer coisa que derrete há algum tempo em mim... Uma meninice até para mim inesperada, mas confesso, encantadora de voltar a encontrar... Um não saber mais o que sinto, pois já passou a tristeza, já passou aquele amor que era maior do que eu e que me entregou ao chão... E agora? NÃO SEI!!!! E é tão bom não saber de novo, e dizer que não sei, e não sei mesmo, e o não sei pode saber a tudo, pode tudo... A liberdade desta negação de saber sufoca-me de possibilidades, a sensação de que voltei a ver hipóteses de errar enternece-me... Voltei a mim, à roda que gira a minha vida e me faz sempre mais viva e me leva para qualquer lugar, pois não tenho hora para chegar, e já me tenho.
Pensei como tantas vezes me humedece a língua e trilha pensamentos o processo, o acto criativo, a arte, e namorei esta ideia que é para mim amada, presente, real... Que quando escrevo, vivo, amo, dou, sou, actuo, brinco, o que mais me fascina e onde existo, onde me suplanto, onde sou maior do que algum espelho poderia desenhar, onde estou viva e vivo, esse lugar é aí, quando actuo, crio, amo e a coisa criada, o objecto de sonho, o ser amado se fundem de tal forma que não sei mais se criei ou fui escolhida, se toquei ou fui tocada, se sou parcela ou resultado, se não me transformei de tal forma que ali me criei, ali existo, sou essência, sou eu cria e criada, pois quando me misturo e enleio no outro, na prosa, na poesia, num outro outra vez, ali sei-me coisa com vida, sei-me, sou amor, obra, arte, artista, vida, amante e amada. Cada momento destes adia o meu suicídio. Cada momento destes traz de volta à língua o gosto de vidas perdidas e por viver, reminiscências que me fazem ser pó, e tudo.
Hoje acordei como sempre fui, ou melhor, como já fui, fui em tempos, ou pura e simplesmente com uma sensação familiar, inundada do que sempre foi em mim real... Um entusiasmo sem nome nem rosto. E não sei se o gerei ou se sou gerada por ele.... E sinto-lhe a falta de olhos, de boca, de braços para me agarrar e me fazer sentir escolhida, preferida, de um arranhar de ouvidos com um refrão rouco de músicas tolas... Mas estou sem ânsias ou mágoas, fecho os olhos e sou como uma viajante num balão mágico e mandei fora todos os sacos de areia que pesavam, que me prendiam a um real que não acolhe nada para além de náuseas...
Comi tudo e a a sensação de náusea é crescente, e de tédio, pois de repente sinto tanto em mim e nada acontece à minha volta, nada me traz sabores novos à boca... Apenas me puxam o vómito e precipitam o passado. A repetição com que brindo por vezes os meus olhos começa a cansar-me de tal forma que o meu corpo se rebelou e hoje acordou apaixonado, sem destino nem necessidade de caminhos... Eu sou a trilha que trilho.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Ausências Itinerantes

A viagem que me leva daqui
De perto de ti
Para um momento ausente
Inebriado de ilusão...
E com um copo de vinho na mão
Aqueço vícios e refresco paixões
Oiço risos no fundo da sala
Que não se estende
Finjo ser ser que se entende
E vejo cortar limões
Que se entregam a um qualquer destilado
Sufocado num copo roubado a um bar
Por não se saber dar
Também eu me dou
A quem me souber roubar
E me beba, a sorver
E me sinta a cada gole
Rendida, fingindo ser mole,
E me sinta o gosto
Como quem trai um desgosto
E para lá da pele me vele
Me molde, me tolde
(Sem me deter para ter).
E pouco a pouco volto, deixo de escrever
E desisto, existo (insisto)
E vejo-me derreter
Misturar... Entregar
A um presente

terça-feira, 27 de abril de 2010

Escolhas

Quando me perdi, verdadeiramente escolhi, até lá joguei ao quarto escuro, ao toca e foge com a sorte. Quando tudo nos parece fácil, dado, o caminho parece abrir-se a cada passo, a escolha nasce óbvia, e a meta é certa. Mas quando assim não o é, surge a necessidade inventiva de viver, e ao lado desta, a necessidade impiedosa de sobreviver. Apenas o amor nos salva (e distingue) desta última. E apenas o espelho e a imaginação nos salvam da auto comiseração e consequente auto imolação.

Qualquer coisa assim

Falar de amor sem tê-lo, e não sendo fiel à posse, faz com que o que quer que não se tenha se desvaneça ainda mais sob a imagem não conseguida do ideal.
Por vezes dou comigo num novo papel, onde me detenho bem mais, me protejo, como se temesse por mim, ou pura e simplesmente começasse a cuidar de mim.

sábado, 17 de abril de 2010

Sem-abrigo

Chego hoje ao contorno do precipício, que me deita os olhos ao chão... Quando antes me prendia alto, como se inatingível fosse devolver-me à terra... Não percebo onde deixei a fé de alquimista que nada via se não a metamorfose impermanente, louca e apaixonante que me leva a ligar a tudo e tudo ser, sem nunca ser se não o que confesso ao silêncio, e que poucas vezes deixei escutar comigo. Sei-me ou sinto-me, ou os dois, na bipolaridade vadia, que vagueia por entre laivos dourados que afagam em segredo o céu da boca e me levantam mais o canto dos lábios, mas daquela forma (ligeira, livre, que não se desgasta num sorriso rasgado, mas naquele quase nada), um quase nada que só os que me atentam vêem... E aqueloutro lado, mais escuro, mas sem o qual não via neste a leveza esvoaçante de purpurinas... Esse lado que não se torna breu, que mais espicaça a ânsia mordaz que me ataca as paredes do estômago, e me acorda por vezes descrente, como se o meu destino fosse desacreditar... E vejo afogar-se em mim uma doçura ingénua, quase pueril que me esquenta tantas vezes e me carrega no maior dos saltos, o que me leva a um mundo só meu, onde acredito sem cinismo em histórias de príncipes e princesas, onde não ironizo o amor porque o solto de cada vez que abro a boca e sempre que me calo... Aí, onde os arrepios no estômago são porque se vê sem olhos quem (se) ama... Tenho saudades de ter os olhos na boca, em cada poro, sentir a cada toque uma viagem a uma memória que não existe, e por isso é perene. Sentir em cada palavra ouvida um eco que se descobre meu, em cada silêncio a presença que me acalma e me rouba aos pensamentos e me faz ser tudo assim, na ausência, sem som, sem voz, com cheiro, e sentir-me apenas ali, exactamente ali, num conforto que só acolhe os que amam, presente.
Ai!!! Saudades desse meu lado lamechas que se derrete a ouvir músicas ao lado de, a pensar em, que me faz sentir que jamais alguém melhor do que estes dois, nós os dois, tinha sido feito para amar, para dar matéria a poemas. Saudades dos meus sonhos cor de rosa, da minha fé inabalável, que virou sem-abrigo, saiu-me da alma, e deixou uma outra, inquilina, boa vizinha, mas que em nada se assemelha à original. Faz piadas e até aquece algumas graças, mas nunca se estraga ou entrega. É daquelas que analisa, que nunca cai, mas também não salta e deixa-me aqui presa neste mundinho que nada tem de meu. E no fim de tudo (e pelo meio), também dói, porque se sabe mera inquilina, ali encostada de favor... E não sei se resiste à estação quente, que aquece nos passos que não damos, mas que nos levam... E nos trazem, sempre aqui... Exactamente aqui, onde se abrigam os amantes. Onde se ensaia o amor para nunca levar a cena, pelo puro deleite da experimentação, que intenta de cada vez que subverte o não sentido que se sabe e toca, e sente, ali, presente, amado.

quarta-feira, 24 de março de 2010

P.S.:

As tuas fotografias, recortes da memória, álbum de colagens da alma. Quando tudo se apaga, basta olhar-te no papel, fitar-te como que fingindo desconhecer-te... Mais do que de ti lembro-me de sonhos... De outra vida... Para onde vou... Onde estou. Mais do que de ti, lembro-me de quem podia ser ali e mais além. E vivi bem além de nós, vivi verdades inventadas, exageradas, contornos de luz que ainda hoje me conhecem sombras e por segundos me gelam o espírito. Mais do que a ti, volto aos sonhos que não sonho mais.




Sussurro

Disseram-me hoje ao ouvido:
Não acredito em segredos
Disseram-me, sussurrando
Aquele dia, o quando
Disseram-me ao ouvido, que mesmo gritando
Não desvendo, e às vezes, sussurrando
Ponho tanto ou quero mais,
Intento nos medos que não visam glória
(Gloriosos vendavais)
Porque confesso, baixinho, àquele ouvidinho
Amor grande sem memória
Que não se recria, existe, que não só tenta,
Persiste... No regresso, no sussurro
Alegre murro de infinita virtude
Que agita, sacode, que faz e pode
Que se deixa ser ao colo, tolo
Que se promove, mas acolhe
E é colhido pelos braços
De aberto ouvidinho, que nos aperta
Atrai, alma esperta, amíude,
Ouvidos de olhos abertos
Espertos a brilhar
Que nada fazem, são...
E aí nos rendemos à evidência
Da escuta, ou da outra mão
(E não mais gritamos, porque tudo é perto
E mesmo sem errados, tudo é certo)

terça-feira, 23 de março de 2010

Regresso

Sinto falta de te sentir a falta, ânsia de te envolver em saudade, de te empurrar e comprimir no meu vazio, de tal forma que até este me pareça leve, menos lúcido, preenchido por laços de nada e rasgos de fé.
Faço tudo para te entregar ao esquecimento, como quem devolve umas botas que lhe cansaram os pés... Mas vejo que é mais fácil esquecer-me de mim, e mesmo quando não te penso, vejo que vais ser sempre miragem, daquelas cuja matéria é a mesma do sonho. Daqueles que ao acordar, parecem ter sido tão reais, que deixamos de destrinçar qual o verdadeiro real, e se é que ele existe. Isto tudo para dizer que não te gosto, ou talvez nem mesmo exista, pois não sei qual é mais real, ou se em ambos te sonho. Não te sei vivo em mim, mas sei que nunca te tenho morto.
Assim és para mim, como umas botas emprestadas, que me aqueceram os pés, me abrigaram o passo, e me fizeram correr mundo... O meu. Assim és para mim, inspiraste-me a fugir, e a voltar. Primeiro fugi de ti, mas mais tarde percebi que era de mim de quem fugia. Primeiro voltei para ti, e ainda hoje para mim volto.

terça-feira, 16 de março de 2010

Amantes

Eles vivem um amor amante, amado
Um amor que se entrega,
Sem medo da espera
De sonhos confessos
De partidas que se dão a regressos
Um amor que se diz alto, mas que se vive calado
Um amor que se faz de asfalto
Entrelaçado nas mãos que o percorrem
Que se tem em tudo o que pode ser
Porque é, espelhado
Que segreda palavras quentes
Que pelas paredes escorrem
Que tenta as noites,
Que dois corpos acolhem
Mas que espera o amanhecer
E se olha de olhos semicerrados
Desertos, despidos, rendidos
E mesmo que um dia morra, vive..
Amando, amante, amado, emprestado,
Dado, que se dá e rebola
Que se incendeia e evola

sábado, 16 de janeiro de 2010

Incompleto...

A escrita regular deu lugar à ausência, talvez porque não tenho conseguido distanciar-me o suficiente do sujeito que vos escreve. Talvez porque me tenha entregue ao tédio de mim mesma, e pouco ou nada em mim me faça a rir. Talvez porque me tenho focado na história viva e não na vida da história que quero contar. Talvez porque me custe terminar o que aqui contava, talvez porque me encontre na história a outro tempo, ímpar em espaço, singular na voz, e parcial em mim, ou eu parcial nela, e não saiba ainda se aqui tem lugar. Talvez deva escrever sobre estes tantos talvez que me assolam, e que me lembram que talvez nada disto seja real e precise apenas de realidades que se sobreponham a estes tantos supostos mencionados. Talvez nada disto exista, nem mesmo eu, e seja eu mesma, fruto de um talvez que percorre a cabeça de alguém, que se agarrou aos dedos e discorre por entre caracteres virtuais de uma qualquer alma solitária, acolhida pela insónia às 3 da manhã.