Sentada em frente ao mar observava a tela gigante que perante ela surgia. E naquele instante, sentiu-se mais sozinha, e ao mesmo tempo envolta numa brisa quente, num afago que só a natureza lhe podia dar, e que só a tristeza lhe fazia notar. Parada, defronte dela mesma e do mundo, tendo como abismo a linha do horizonte, teve saudades do nada e de tudo o que não viu. Naquele silêncio feroz, próprio de quem concita a si mesma, culpando por vezes o mundo, encontrou paz e por fim, o nada. Conseguiu esvaziar a mente e apenas sobrepesou o peso da alma. Não é como a vêem, desconfia, e se algo a mede é o quanto ama e se dá. Na displicência com que se deita sobre o mundo existe verdadeiramente.
Ali, naquele fim de tarde, ligou-se a si mesma pela linha que a desligou do mundo.
E pensou: Não me escuto, ou desaprendi minha língua. Confundo-me a mim mesma, certamente o Universo, que não mais deve saber o que quero, qual a demanda. Cheguei a esse ponto crucial, a pergunta não mais pode esperar... E pergunto-me, grito por dentro: O que quero? O que realmente quero?
Cheiro o mar, adoro o cheiro do mar. Alinha-me os sentidos e faz-me perder o senso de mim.
Vou para casa. Quero ir. Amanhã volto. Não posso esquecer, não posso deixar de me responder.