No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

domingo, 28 de setembro de 2008

Busca

E que fazer quando o dia acorda assim? Capaz de arrancar os céus... Impossível não sentir e sentir e sentir... Não lembrar de contos vividos, uns mais contados que outros. Outros ainda, sob o véu duma nostalgia solta, pueril. Lembras-me sonhos de Verão, história de um romantismo que perdi na guerra. Nesta guerra que por vezes travo comigo, e que vezes outras travo com quem se defende ou de quem me defendo.

Lembras-me o riso quente dos vinte anos recém chegados... Uma crença que busco cada dia, todos os dias em mim... Não acredito no tempo, mas acredito naquele em que ele para mim de facto não existia. Mas hoje sei que me gosto com mais verdade. Não me preocupa, não quero que me gostes mais assim. Mas bom saber-te nas minhas memórias. Saber que nunca te perdi, porque não saí da nossa história vencida.

Nunca nos reencontrámos e, no entanto, nunca nos deixámos ficar longe. Não sei porquê, também não procuro respostas. Mas fazes-me bem.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Primavera a Sul

A rosa dos ventos tem dessas coisas, aponta para Sul e tudo começa... As folhas que caem, que jazem no chão, nascem em árvores outras, que meneiam seus braços aos ventos do Sul... E neste embalo fui, estou... Desnorteada, mas com prumo neste rumo que tracei. Trago o lápis no canto dos lábios e a cada dia traço-lhe mais um risco... Hoje junta-se-lhe a rosa, é Primavera a Sul!!!



Minha Alma não tem pontos cardeais, embora reze a tantos outros... À energia que brota, às ideias que borbulham, aos sentimentos que se afagam, às verdades que nos cortam e ao tempo que só existe para sarar essas feridas. Nesse tempo já me perdi, mas só ele me fez sair mais viva.

E de repente, do outro lado da janela tudo muda, a brisa dança a outro ritmo, envolve tudo o que vai nascer. E por isso, é tempo de renovar ou persistir em sonhos. De inspirar sem medo de morrer.

Lembro-me de ser criança e de olhar os céus e as andorinhas que os rasgavam a cada Primavera... Sempre gostei de andorinhas, de pássaros migratórios, que perseguem o Sol. E que voam no embalo dos ventos quentes... E nunca vão de vez para lugar algum... E sempre voltam...
A cada Primavera. Trazem com elas o fim do Inverno e o início da Primavera... A época em que tudo se renova, nasce, contrói. Vejo agora porque sempre gostei delas, porque sempre me alegrou aquele chilrear... Nunca gostei de Inverno. E elas traziam o novo, anunciavam oficialmente a chegada do tempo quente, do tempo onde se contrói novo tempo.
Gostava que cruzassem os céus das Américas para me anunciarem mais uma Primavera. Mas voam ainda nas minhas memórias de criança. E sei que também elas abandonam agora o hemisfério norte e se dirigem a Sul, ainda que noutra latitude, num outro continente, num outro pedaço de céu, anunciam, celebram esta nova fase da natureza.
Só hoje sei porque gostava tanto delas... Nunca havia visto o meu afecto por elas como hoje, apenas gostava delas, achava-as alegres, percebia-as como ninguém na sua ânsia de estar onde tudo começa, onde o ar é mais leve, quente, onde o brilho do Sol volta a ser intenso. Lembro-me de pensar que os Homens também deviam ser assim... Seguir nas asas do tempo rumo à Primavera precursora. Com ela até o eco do mundo muda, a natureza canta e, a cada ano, surgem novos sons. Tal como a natureza, celebro a renovação, a mudança, o caminho que não tem que ser o mesmo, mesmo que saibamos qual nos leva a casa, ou talvez por isso mesmo.
Agora sei porque gostava delas... Das alegres e esvoaçantes andorinhas. A natureza dá-nos pistas sobre nós mesmos, espelhos. Espero ter sempre tempo para notá-los.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Segredo ao alto

Consome-me aquele olhar

Que não mais me olha

Entrego-me ao corpo que não acho na cama

Que não grita, mas é chama

Não sei se para ti vou

Mas sei-me no salto que em ti dou

Não te preciso, porque te quero

E não deixo que o medo me coma

A alma, com seu morder voraz

Com sua fome de minha paz

Continuas intento da minha saudade

Ainda te quero de cada vez que desejo

Ainda te beijo, em pensamento, cada vez que flamejo

Mas não mais me roubo de mim

Saudades daquelas, tuas mãos,

Que fazem do meu não, sim

Que dão novo toque ao toque

Saudades do teu respirar

Que quero perto, que me sufoque

E nada mais me guia, para além duma força motriz

Que tudo entende, e nada diz

E foi preciso partir, ignorar o encanto

Fugir-te, temer-te, não mais te querer

Para sentir que te quero para lá de tanto

E grito-te no escuro para que ningém me oiça

E trinco-te baixinho para que o orgulho não me morda

E amo-te bem alto para que todos oiçam

E te contem por mim







quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Saudade

E o dia quente de Verão humedece as paredes sem porta ... O dia dá lugar a uma chuva insistente, pequena... Como tantas vezes nos assaltam pessoas assim...
Mas não nos molha, só nos acorda os sentidos... Em Lisboa, a portas fechadas, bebem-se copos de vinho branco, tinto, palavras cruzam-se à mesa, mãos deitam-se umas sobre as outras, pernas prendem-se por baixo de panos...

Lisboa é linda! Já diz o fado! Menina e moça, canta o refrão... Em todas as melodias, Lisboa surge curvílinea, mulher! Cidade fatal que nos agarra, mas madura, solta-nos... A mim libertou-me, deu-me ao mundo e fez-me assim, mulher litoral, e jamais acordo sem olhar o céu, jamais deixo de reconhecer o cheiro da maresia...
E a cada esquina Lisboa planeia encontros e desencontros, na sua alma de cidade velha espelha novas histórias... Encontram-se novos amores, velhos amantes, e nasce a matéria prima de poetas, porque a cidade vive-se na poesia, no entusiasmo com que se levanta um copo de vinho, com que se brinda olhos nos olhos, e se sorve o elixir da vida...
Lisboa, fêmea, cheia becos e vielas, completa por lugares recônditos que só conhecem quem os viveu... Nostálgica, mas presente.
Hoje reencontrei neste cenário uma grande amiga. Falámos, perdêmo-nos, afogámo-nos nas conversas e em copos de vinho branco ao alto. Mas na verdade, mais alto colocámos o que trazemos ao peito. Bom voltar e saber que temos quem nos espera... Ela sempre me esperou. Também eu a esperava ao contrário... Felizes os que a língua mãe lhes ensina a saudade, pois configura-lhes a alma... Felizes os que reencontram, sabendo que onde quer que vão muitos pares de braços os esperam... Felizes os que a língua mãe lhes ensina a saudade, pois configura-lhes a alma... E o melhor da saudade é abraçá-la...