A rosa dos ventos tem dessas coisas, aponta para Sul e tudo começa... As folhas que caem, que jazem no chão, nascem em árvores outras, que meneiam seus braços aos ventos do Sul... E neste embalo fui, estou... Desnorteada, mas com prumo neste rumo que tracei. Trago o lápis no canto dos lábios e a cada dia traço-lhe mais um risco... Hoje junta-se-lhe a rosa, é Primavera a Sul!!!
Minha Alma não tem pontos cardeais, embora reze a tantos outros... À energia que brota, às ideias que borbulham, aos sentimentos que se afagam, às verdades que nos cortam e ao tempo que só existe para sarar essas feridas. Nesse tempo já me perdi, mas só ele me fez sair mais viva.
E de repente, do outro lado da janela tudo muda, a brisa dança a outro ritmo, envolve tudo o que vai nascer. E por isso, é tempo de renovar ou persistir em sonhos. De inspirar sem medo de morrer.
Lembro-me de ser criança e de olhar os céus e as andorinhas que os rasgavam a cada Primavera... Sempre gostei de andorinhas, de pássaros migratórios, que perseguem o Sol. E que voam no embalo dos ventos quentes... E nunca vão de vez para lugar algum... E sempre voltam...
A cada Primavera. Trazem com elas o fim do Inverno e o início da Primavera... A época em que tudo se renova, nasce, contrói. Vejo agora porque sempre gostei delas, porque sempre me alegrou aquele chilrear... Nunca gostei de Inverno. E elas traziam o novo, anunciavam oficialmente a chegada do tempo quente, do tempo onde se contrói novo tempo.
Gostava que cruzassem os céus das Américas para me anunciarem mais uma Primavera. Mas voam ainda nas minhas memórias de criança. E sei que também elas abandonam agora o hemisfério norte e se dirigem a Sul, ainda que noutra latitude, num outro continente, num outro pedaço de céu, anunciam, celebram esta nova fase da natureza.
Só hoje sei porque gostava tanto delas... Nunca havia visto o meu afecto por elas como hoje, apenas gostava delas, achava-as alegres, percebia-as como ninguém na sua ânsia de estar onde tudo começa, onde o ar é mais leve, quente, onde o brilho do Sol volta a ser intenso. Lembro-me de pensar que os Homens também deviam ser assim... Seguir nas asas do tempo rumo à Primavera precursora. Com ela até o eco do mundo muda, a natureza canta e, a cada ano, surgem novos sons. Tal como a natureza, celebro a renovação, a mudança, o caminho que não tem que ser o mesmo, mesmo que saibamos qual nos leva a casa, ou talvez por isso mesmo.
Agora sei porque gostava delas... Das alegres e esvoaçantes andorinhas. A natureza dá-nos pistas sobre nós mesmos, espelhos. Espero ter sempre tempo para notá-los.