No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

sábado, 18 de setembro de 2010

Flui

Decidi não te escrever, como se escrever-te me fizesse partilhar-te, quando me sinto como uma menina mimada que ficou com a massa de bolo para raspar e não quer dividir com ninguém. Confesso também que ser que vive tantas vezes para contar, desta vez decidi ser apenas e abandonar o lugar de vigília, de contadora de histórias. Mas o tempo vem e vai e dá voltas em mim, à minha volta e sinto que esta coisa sem nome tem que sair de mim, como se de repente eu já não precise que sejas meu, ou não me importe com agoiros, pois tudo o que é, é. E não há palavras que toldem a história de outra forma, pois ela respira para lá destas linhas, e se é maior, flui.
Em busca da fluidez, assim me sinto. Acho que chegamos a um ponto do nossa complexidade esquizofrénica em que a fluidez de movimentos de corpo e de alma pende de tal forma nas nossas vontades, ou rasgos de fé, que se faz caixa forte dos nossos desejos, anseios. Descubro-me ansiosa só de sentir que tudo pode obedecer a essa corrente que segue e mesmo quando se aquieta, é viva. Essa coisa de imitarmos a natureza, de fazermos das emoções, rio, mar, oceano seja a escala a que nos aprouver, agrada-me. Dá-me uma sensação de estar menos só, de ser parte deste mundo. Quando tudo flui, continuo a ter dúvidas, mas de repente parece que não me incomoda tanto a espera, só isso, simples assim. No fundo sei-me da complicação simples que se quer dela e de todos. Sou ser simples, avessa a complicações mundanas, o que me complica são as questões que me detém e me contém e não a logística ou coreografia da minha dança para quem não me tem. Às vezes gostava de ser ser mais quieta por dentro, porque cansa... Cansa...
E no meio de tudo isto que não sei se sou, vi-te pela primeira vez... E foi tudo como se fosse a primeira, mas uma primeira que me trazia memórias que não tenho, que me trouxe sensações que o tempo deste mundo não cronometra, fracções de um tempo ainda não inventado.
Quando te olhei, tudo me desprendeu dali, mas duma forma estranha, como se de repente me esquecesse de tudo o que os sentidos vêem, e só me sobrasse o que não é "pensável", restaram-me uma visão deturpada encadeada por uma luz qualquer que saía de tudo e uma qualquer coisa que se assemelhava a um não sei, ou a uma cola tudo, que me fazia querer ficar ali, sendo o ali qualquer lugar onde te tivesse... Um não descolar daquela voz que de repente me mudava o ouvido, me ensinava nova escuta, um olhar que me fazia sentir eu, e uma energia que me devolvia a casa... Acho que no tempo dos homens, posso dizer que me apaixonei ao terceiro minuto, e a cada minuto confirmava o que não podia deixar de ser. A forma como tudo parecia natural, fluir, uma familiaridade que de inexistente, apareceu desde o primeiro instante como achado, uma empatia que ia para lá de qualquer empatia, recordando-me todas as coisas pirosas que se dizem sobre estes momentos, todas as comédias românticas, todos os folhetins de cordel... Falámos horas, e o tempo atravessou-me sem que o notasse, pois só te sentia ali.
Tudo em ti me parecia diferente, como se fosses ser único, sem paralelos, tudo em ti me remete ao espelho, me acolhe . Tudo em nós não obedece a nada, e não se dá a regras, à ordem das coisas.
Tudo sem ti me traz saudades, como se não mais soubesse não ter-te perto, ou como se secretamente gostasse de te ter longe para me saber fraca. Ou pura e simplesmente como se sempre te esperasse.
Tudo volta quando me olhas como só tu sabes, daquela forma, como se só me visses a mim, como se sempre me achasses.
Sempre que me lembro da primeira vez que te vi, conheci um desejo sem igual e sem corpo... Acho que só ao fim de 3 minutos e já enfeitiçada, te vi as pernas, cada músculo, cada contorno... Até lá contornavam-me sensações, uma sensação de estar bem, mas um estar bem tão bom, que queria ficar naquele lugar para sempre... Esse lugar que és tu, sou eu, que não começa nem acaba, existe.
E embora com arrepios na espinha, não me deixavam nervosa, e nada do que dizia era filtrado, como se tivesse encontrado o soro da verdade, da minha, como se perto de ti não conseguisse fugir de mim. Tudo é natural, não pensado, corre... Uma sensação de estar protegida, sempre que me dás a mão, de querer ficar ali, apenas porque sabe bem, porque me entrega às sensações que não são complicáveis. Ali existo. Sem véus e distante de mágoas. E confesso que não me tento a proteger-me, não temo. Por mais que a razão me segrede coisas ao ouvido, não escuto. Sei que estou a ir contra a lei das probabilidades, mas esse teu gosto a impossível, a sublime, tenta-me para lá das minhas faculdades mentais, para lá do meu ser cognoscente. E esse teu domínio do meu inconsciente, levanta-me as saias (da alma) e mata-me os medos.


Agradeço o presente que é sentir.