No Rio de Janeiro... Rio, riem, prendem-me, soltam-me, prendo, vou, vais, fico, fujo, tocam-me, toco, és, Sou, Amo-me, amam-me, danço, Sou, grito, escutam-me, escuto, beijam-me, beijo, canto, Sou, caio, levanto--me, celebro, Sou, caminhamos, vamos, paramos, olhamos, sentimos, somos, estou, fico, és, estás, ficas, amamo-nos, Amo-me, amo-te, amas-me, fujo, vais, perdemo-nos, voltas, vens, achas-me, olho-te, olhas-me, és, beijo-te, beijas-me, beijamo-nos, amamo-nos, somos, Sou, amo-te, Amo-me, perco-me, perdes-me, foges, vou, volto, amo-te, Sou, sonho-me, sonho-te, Amo-me, amo-te, amas-me, prendes-me, soltas-me, danço, grito, canto, Sou...

sábado, 25 de outubro de 2008

Febril

"Não é mais surpreendente ter-se nascido duas vezes do que apenas uma; tudo na Natureza é ressureição."
VOLTAIRE
Para quê viver se não para ser real? Para quê ser real se não se acreditar realmente nisso? Para quê deambular entre a morte e a vida se não para ser arte? Para quê ser arte se não amar o artista? Como ser artista se não amar arte?
O Amor é a única constante. Em todas as interrogações, surge como resposta, só ele cria, constrói, dissipa o medo... Veste-se de fé, compaixão, criação, e vive-se pela acção. Age, actua, não se limita a existir e, como tal, faz vivo quem o sente (torna este mundo real, é a vontade inconsciente que a ele nos prende).
Sei que não foste acaso, um caso dentro da desconstrução do tempo. Vieste para me mostrar que dói, não por quereres meu sofrer, ou acreditares na sofreguidão inútil das almas, mas porque me queres viva. Ressuscitas-me a alma, sacode-me-la por entre o corpo, quando me olhas assim, lancinantemente, de soslaio, como que ao acaso, mas um acaso que sempre nos atrai, que trai nossas mentes, o tempo sequenciado, os ponteiros do relógio, surge, e aí, me mergulho sem medo, sem querer sair enxuta.


Sei que te vi outrora, mas não sei onde... Meu gladiador de outros tempos, tens a guerra nos olhos de outras vidas, mas nesta não vieste guerreiro, mas vencedor, aprendeste que só o amor vence guerras que o medo trava, espero. Sei que também me sabes para além do eu que hoje sou. Mas será que a mente te entorpece os sentidos, te afoga para lá de onde teus olhos te mergulham?...


Sob o efeito do anti-inflamatório e de analgésicos tento sobrevir de uma gripe, uma garganta inflamada, quando na verdade sei o que me resfriou o espírito. Os espasmos que me atingem, sacodem-me as paredes da alma. Ela descolou-se dos meus ossos, da caixa forte que trago no peito, pôs-se a salvo. Foi por aí que o frio me penetrou, congelou-me os sentidos e permite-me viver assim benzinho, por quanto tempo o tempo assim me quiser.


Acordei doente, maleita pequena, reflexo de um frio que abrigo em mim. Talvez precisasse de uma desculpa (ingénua) para tomar analgésicos e assim acalmar minha dor. Ou apenas senti-la assim, dormente, pedante, disfarçada de doença, para que não lhe ache a cura. Ou talvez só precisasse desta sonolência torpe para embalar minha saudade, por entre delírios febris, te sonhar e te ter comigo. Nunca te deixo, ainda não quis o suficiente, confesso. Estás em mim pelo tanto e por quanto te permito. Não expio minha culpa. Mas perdoo-me...


E olho pela janela. E tudo para lá de mim vive... E o anónimo colectivo, por instantes resgata-me. No escopo entre a loucura e a verdade se criam ilusões reais. Pelo meio amamos... Entre a verdade e a loucura... Só o Amor expande a vida para fora de nós sem nunca a expulsar, só ele é real. A saudade apenas te sobetrai ao passado e resulta em mim.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

On my way

Jurei não mais chorar, não mais me dar ao desconhecido que aperta meu peito... Não dói, porque nada espero, esperava, mas escorre-me pelo rosto... E eu que jurei não mais ser assim, mas por dentro, não sei se não celebro, pois provaste-me que ainda sou capaz de sentir... Hoje soube que o caminho ganhou novo norte... Nunca te cobrei um destino, mas levei-me, sem querer, até ti... Sou alma solta, mas solto-me nas coordenadas da intuição... Não entendo o que me apontou até ti... Se nada tens para me dar, porquê minha bússola aponta para aí, o que quer que seja, hoje deixei-te na berma do que poderia ser, na estrada de mim mesma... Não mais a quero seguir... No entanto apareceste-me, desnorteaste-me, encantador... Estavas deliciosamente perigoso... Afagaste-me os olhos e toda a libido que me sustinha de pé, que me dava força para te tratar como igual... Quando na verdade te vejo além de todos... Para lá de todos.
Estou livre... Soltei-me da ilusão que sem querer, mas crendo me prendia a ti. Sou de novo poeta, solta na métrica das ruas, na poesia de almas perdidas, que crendo, me encontram. Espero que te reúnas no melhor de ti, pois a mim resta-me ser feliz. Sê-lo-ei.

domingo, 12 de outubro de 2008

Insónia

Acabou o dia... Tenho que dormir, mas minha mente exalta mil vidas, todas aquelas que tento viver e todas as que me escapam na esquizofrenia a que me rendo. Poucos me entendem, e os poucos que me entendem, muitos estão equivocados, acho.
Não sei se enamorada, se envolta na ideia de o estar... De qualquer das formas, criei em mim sentimento inteligente, presente, pouco presente, mas que me transborda nos olhos. Gosto assim, sem promessas, ou parcelas, inteiro e em mim, porque o quero juntinho...
Canta-me, no refrão, Amy (Winehouse), pregada aos ouvidos, mas no eco é para ti que grito, por ti me perco, nos dedos, nas ruas, nos becos para os quais arranjo saída... E corro até lá ... Mas nunca chego sem me levar, nunca chego contigo, mas sempre chego até ti. Estás lá, no cantinho decorado pela ilusão real, afagado ao de leve pela vida, mas confortado pela mais fértil das imaginações...
Foge-me dos dedos tudo o que quero escrever, apenas, porque o que quero, agora se prende a ti... És tu quem me toma, pela aurora do dia ficas maior em mim, talvez por isso mate a insónia com vontade de dormir... Mas ainda assim, não me livro de ti, ilusão que gerei, corpo que vivi, apareces-me nos sonhos, de cabelo emaranhado, de coração desamarrado, e nesse instante, aí, ato-me a ti... Sou presa ao fio solto que me tem em ti, nele me enrolo, volto. Mas não me roubas de mim, por isso vou dormir, escoltar a insónia para longe de ti... E esperar que o meu inconsciente não te encontre, e, fique aí...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Retalhos

E o que fazer se quando sou, grito

O inaudível som, que só os mais desatentos tocam

Aqueles tantos que perdem tempo e vivem seus talentos

Que mirram quando chove, e escutam

E juntam-se-me no eco, no brilho de cada sol

E perdem-se no meio para nunca chegar ao fim

E não pescam, mas trazem sempre ao peito um anzol

E gritam não quando os olhos dizem sim

E começam onde caíram

E sempre se levantam

E amam lá pelo fim, só para fazer um não

Virar sim, um precipício

Onde constroem um início

E precipitam de novo um grito

No agito que cada vento arranca ao corpo cansado

Molestado pelo tédio passional

No arranha céus da loucura sei-me inquilina

Sei a linha ténue e curvilínea

Que me mantém sã

E salva da sensatez plural

O meu mais forte apito,

O que me acorda pela manhã

Revolve meu corpo, envolve-me os sonhos

Toca como se cada dia fosse um cais

Onde me atraco, pernoito

Ou barco afoito que sou

Apenas deixo para trás

E presa a cada grito solto não fico, vou

E raramente tenho frio

Pois fiz dos sonhos agasalho

Uma manta de retalhos

Que não tem princípio ou fim... Crio.