Ele olhou-a continuadamente. Observou atenciosa e deliciadamente a mulher que diante dele se mostrava. Não conseguia desviar o olhar, e, todo e qualquer desvio que tentasse, sucumbiria nela. Ela era assim, majestosamente fémea, deliciosamente menina. Apaixonou-se no mesmo instante que os seus olhos comeram os dela, e sem querer, percebeu que ela o havia sugado... Ele era a presa.
Sentados lado a lado numa mesa de café, eram dois estranhos que se tinham descoberto na intimidade dum olhar. Aquele olhar podia tudo e podia nada ser. Era necessário agir... Verbo dos amantes, dos que querem amar.
Ele decidiu que não podia perdê-la para o mundo. Fez sinal ao garçon e entregou-lhe um bilhete, tal qual colegial que passa um bilhetinho para a mesa vizinha.
Ela sorriu como se tudo fizesse parte de um grandioso plano arquitectado numa outra vida, e ela, obviamente, como mulher acima dos homens, sabia-o.
Ela sorriu como se tudo fizesse parte de um grandioso plano arquitectado numa outra vida, e ela, obviamente, como mulher acima dos homens, sabia-o.
O bilhete dizia:
- Olha-me! Eu olho a cada instante, porque mais não posso senão olhar. Sinto-me puxado para cada detalhe, para cada mexer de pernas, braços, perco-me até na tua sombra. Olho, não porque te estranho, mas porque estranhamente sempre te vi.
Teu.
Ele esperava impaciente a reacção daquele ser, que tanto lhe tinha dado a sentir naquele fim de tarde, recortado a meia luz, disperso pelo meio da semana, perdido entre o dia e a noite. Também ele se perdera.
Ela tirou uma caneta da mala...
O garçon voltou e trazia na mão correspondência:
- Olhar-te-ei com o prazer de saber que olho para alguém que me vê... Também eu te vi.
Quando levantei os olhos do recorte de papel que ela me enviara... Caíra a noite. Ela não mais estava. Já não entendia nada. Aquela mulher que me continha desaparecera. Porquê? Também ela o sentira. Porquê? O que teria acontecido... Fugira de mim... Porquê?
Interroguei um a um os empregados daquela, até então, pacata esplanada, e nada. Ninguém sabia de quem se tratava, nunca a tinham visto. Cheguei a pensar que havia imaginado. Duvido de mim próprio. Busco-a no mundo e em mim. Senti-me menino homem, sem medos, apenas com uma irresistível vontade de amá-la. Ela não quis? Não sei que pensar, mas sei que também ela sentiu algo, e o seu bilhete confirmou-mo.
Passei a ir todos os dias ao local do crime em busca da criminosa, que ao invés de matar-me, me deu vida...
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