Escovei os dentes, deixei-me estar por debaixo do chuveiro e deixei a água fria tomar conta de mim. Escorreu-me por todo o corpo uma sensação nova. Hoje acordara com outros olhos.
No espelho via o brilho que só a luxúria crava no olhar e o desejo na alma. Acordei de vontades acesas, e sem medo de as olhar nos olhos. Por isso demorei-me no espelho. Vi-me tão criança, e talvez poucas vezes me vira tão mulher. Chega de choros e afagos de cabelo (pensei), e em cada poro de pele decidi guardar sonhos, células inteligentes que me gritam ao Universo.
Gosto dele, acho que ele sabe. Mas gosto tanto de tanto gostar, que acabarei por gostar de outro. E para mais, tenho tanto por viver, hoje afogou-me a sensação de esperança, mas não a esperança no amanhã do futuro, a esperança no amanhã do presente. aquele amanhã quase hoje, como pensamos quando crianças, quando mais de dois dias nos parecem sinónimo de eternidade.
E de luxúria no olhar deixada, não por acaso, pelo desejo que se me instalou na alma, e que me sacode o corpo, caminhei pelo dia. E este pecado capital deu-me novo colorido, e como não acredito em pecados, resolvi manter-me pecadora, pois alegrou-me o dia, aqueceu-me o corpo e cozinhou tantos dos meus pensamentos, que crus não me levavam a lado algum.
Não por acaso falei contigo. Tu, voz inteligente, que tanto me lembras, mas que me falas no timbre grave e na tua serenidade de homem cúmplice. A cada palavra lembro-me do corpo quente, da voz grave e certa, das mãos fortes que até hoje me percorrem pensamentos. E prendeste-me assim, pelo intrincado enigma que é tua mente, pela inteligência com que o desvendas caprichosamente quando queres, e aí , só aí, de pequeno se tornou um pecado capital, sublimado por rufos de tambores e drapeados de estrelas. E tudo de uma forma fortemente subtil. Saudade...
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