Estou inquieta. Mente, corpo e espírito. Apenas escrever me acalma. A sensação de partilhar, de tirar de mim, oferece-me a maior das evasões.
Vagueio pelo quarto, acendo um cigarro, olho pela janela... E nada me acalma, me resigna com a vida. Levanto-me, dirijo-me novamente à janela, em busca de algo maior do que eu, que sufoque minha sofreguidão.
A noite está no mínimo bela. O céu mistura sua negritude com reflexos acobreados. Por entre matizes várias, esconde a lua. Não a encontro. Fui em busca dela, ela dá-me paz, na sua vigília silenciosa. Mas hoje está inalcançável , pelo menos aos meus olhos. Mas a noite não perde por isso beleza, e a sua ausência sentida, parece que a faz ainda mais presente. A lua, tantas vezes associada ao oculto, ao lado feminino, ao indizível. Mulher de fases e que, por vezes, quando a não vemos, se torna maior em nós, tamanha é a crença de que todas as noites nos vela. Mulher de fases que clareia, mas que não é clara, que ilumina, mas não se faz só de luz. Que é luz, mas não é estrela. Que não tem medo do escuro, pois nele se faz luz. A lua diz-nos tantas coisas quando a olhamos, e escutamos, e nos permitimos perscrutar a nós mesmos, sob a sua doce e velada luz.
Hoje a lua disse-me que, por vezes (a) procuro e não acho, mas está lá, apenas não vejo, mas se fechar os olhos, e me abrir para uma visão maior, vou saber, ver para lá do véu.
Há pequenos sinais onde quer quer que os queiramos ler, há meras coincidências quando queremos ser compreendidos. Olhei de novo sobre a janela do meu quarto. Debrucei-me sobre mim mesma para ver se "via". No cimo, numa distância que as sensações foram encurtando, acenava-me, de braços abertos o Cristo Redentor, iluminado. O céu encobrira a lua, mas deixou-o a descoberto para mim. Nele repousei minha inquietação e ansiedades. e na tinta que discorre por estas páginas as partilho, consoladamente. (A minha terapia está ao alcance de uma bic).
Hoje a lua na sua omnipresença, ou presença subtil, resgatou a minha fé, quando a frequência do dia a baixara, na tentativa de extingui-la. Mas antes de dormir lembrei-me que é real. Existe, vive em mim, mesmo que às vezes a não veja.
Nasci para viver esta vida e a cada escolha ser mais eu.
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