Não tenho escrito, pois tenho-me concentrado em sorrir para a vida e ela responde-me com o eco de gargalhadas. Não porque se ri de mim, mas porque me juntei a ela, e rimos juntas, e muitos mais se juntam em nós.
A inspiração é, muitas vezes motivada, outras, a minha , viciada em ti, por isso tirei umas férias, deixei de te dar palavras na ânsia pueril de te fugir e de voltar a ser livre. E acredito, tal como Pessoa, que se fingir tão completamente, deveras vou sentir.
E insisto neste meu fingimento, que facilmente ilude a mente, mas embate várias vezes nas vagas da minha alma, que resiste heróica e estoicamente ao encantamento que sobre ela se abateu.
Sei-me exagerada no exagero daqueles que forçam seu próprio pensamento ao esquecimento para escapar à loucura. E não gosto de quem me quer menos porque sou assim, exagerada, intensa, volúvel na volúpia da amnésia do tempo. Mas tudo isto que me invade, expira, e inspira, não me assombra. Sou serena, na plenitude de meus exageros e na harmonia das minha contradições.
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Autopsicografia
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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
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E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
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E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa
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