Vivo no presente, tento, tento sorver o que quer que seja que acredito e sinto existir, mas às vezes prende-se-me no tédio uma sensação que descubro inventada, uma intuição contrabandeada por mim, apenas para me entregar a um tempo que acontece.
Caminhamos sempre para algum lado, ou temos que nos dar essa sensação de avanço, pelo terror de estar parados, parada... De não existir para alguém. Poucas vezes me basto, mas gosto tanto dessa sensação de ser mais minha, de me fundir no vento, de me atirar sem precisar do seu balanço... E cair sem precisar que o chão me aqueça velhas feridas.
As expectativas que crio, matam-me as intuições, as sensações leves, gosto tanto delas, as que são ainda mais efémeras que o agora, as que só nele habitam e em mim, e que me deixam na generosidade de quem me dá a muitas mais. Quero ter a leveza de me entregar sempre a esses nadas, quero deixar de pensar e querer tanto tudo a todo o tempo. Quero deixar de me pôr no tempo, de me dar tempos, quero esquecer-me do que me esquece... Quero esquecer-me desse atalho que me abrandou o passo e a pulsação...
Quero intuir sem trapaça, e ser levada por esse impulso maior que nada quer, mas que sente, que me tem e quer ali, parada, a caminho...
Não quero contrabandear intuições para servir os meus caprichos, os meus quereres de quem quer sempre estar, sentir e caminhar para um qualquer lugar maior de si... Quero voltar aos meus pequenos nadas e esquecer-me desse grande plano que tracei para mim... E só mudar o rumo, quando sentir uma intuição (pura) que me leve daqui.
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